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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Saúde

Emagrecedores proibidos ao alcance de um clique na rede

Ana Luiza Cardoso - Do Portal

30/10/2012

Eduardo Ribeiro

Fórmulas emagrecedoras proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são comercializadas livremente na internet, conforme o Portal PUC-Rio verificou ao simular uma compra. Mesmo com a venda considerada tráfico de entorpecentes, com pena prevista de cinco a 15 anos de reclusão e multa, vendedores fazem propagandas em sites e redes sociais prometendo “o físico perfeito” em poucos meses.

Num dos blogs de vendas acessado pela reportagem, textos apresentam supostas vantagens do uso de medicamentos para emagrecer, dão receitas de compostos, “fórmulas mágicas”, e garantem não provocar danos à saúde. O contato é normalmente feito por e-mail. A fórmula custaria R$ 595, com pagamento por depósito bancário e o envio, pelo correio. A vendedora pede o CEP do cliente para calcular o frete e fornece o número da conta para depósito.

ReproduçãoPor telefone, obtido por meio de uma rede social, a responsável pelo site ofereceu a fórmula “Mega Liporedutor”, campeã de vendas, que contém entre seus componentes os estimulantes femproporex e anfepramona, o antidepressivo fluoxetina e Triac, composto que atua como hormônio tireoidiano – todos de comercialização proibida e de alto risco para a saúde, especialmente se tomados sem acompanhamento médico. “Podemos incluir sibutramina, se você quiser”, ofereceu a vendedora, referindo-se a substância que só pode ser vendida com receita médica.

Questionada sobre os riscos da compra ilegal, a vendedora, com tranquilidade, enfatizou: “Não precisa se preocupar, é tudo seguro”. Já sobre os efeitos colaterais, foi reticente: “Bom, isso depende...”

Uso pode causar infarto

De acordo com a diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a médica Flávia Conceição, o uso da anfepramona e do femproporex pode causar aumento de pressão arterial e de frequência cardíaca, assim como o Triac, cujo uso pode levar a infarto pessoas com doenças cardiovasculares. Já a fluoxetina, antidepressivo usado no tratamento de transtornos alimentares, pode causar alterações do sono, agitações, tremores e até convulsões em pessoas predispostas.

– Na venda de remédios sem prescrição e ilegais, quem vende ou compra está cometendo um crime. Além disso, pessoas que usam medicamentos sem acompanhamento médico estão correndo risco de efeitos colaterais potencialmente graves – alertou a médica.

Com o objetivo de perder peso rapidamente sem esforço, o estudante carioca F.V., de 23 anos, 1,77 metro e então com 88 quilos, usou por três meses os estimulantes OxyElite Pro e Lipo6 Black – proibidos no Brasil desde julho de 2012, chegando a 81 quilos. Ele sofreu o menor dos efeitos colaterais: insônia.

– Ao contrário de amigos, não tive taquicardia – conta ele, que costuma pesquisar sobre remédios e seus efeitos na internet, sem auxílio médico: – Já comprei em diversos sites e nunca tive medo de ser repreendido. Declaro o produto como “suplemento alimentar” e recebo pelo correio.

O jovem costuma fazer encomendas junto com um grupo de colegas da academia de ginástica. Numa das compras, pelo e-Bay, recebeu remédios de um lote com defeito de fabricação. Nos Estados Unidos, onde o medicamento é autorizado, houve recall. Mas as caixas ruins vieram para o Brasil.

– As cápsulas estouraram dentro da caixa, e ainda estavam fora do prazo de validade. Fui pesquisar e descobri a história do recall – conta ele, que jogou fora os comprimidos.

Em resposta, os Correios afirmaram que atuam no combate ao tráfico de medicamentos proibidos nas remessas postais por meio de fiscalização, utilizando raios-x e espectrômetros de massa, que identificam conteúdos suspeitos no interior das encomendas.

– A empresa também realiza operações constantes, juntamente com a Anvisa, para coibir o envio dessas substâncias. Entretanto, por ser assunto relacionado à segurança postal, não divulgamos detalhes das ações para não prejudicar o desenvolvimento das operações – respondeu a assessoria dos Correios.

A Anvisa considera a fiscalização “trabalho de formiguinha”, já que a cada dia um novo site entra no ar. Segundo a agência, o maior problema é investigar páginas hospedadas em provedores de outros países, porque o acesso às informações dos usuários é dificultado.

– Temos equipes de monitoramento, mas todos os dias aparecem novos sites. É trabalho de formiguinha. Ao identificar os responsáveis, determinamos a retirada da página do ar, e de forma complementar, fazemos ações conjuntas com autoridades policiais. Entretanto, sites com domínio com sufixo “.com” dificultam a identificação de responsáveis – explica o assessor da Anvisa, Danilo Molina.

O blog contatado pela reportagem é brasileiro (blogspot.com.br). Foi criado em abril de 2011, mas uma busca pelo nome da vendedora indica propagandas e mensagens em redes sociais desde 2007.

Delegacias especializadas

Localizada na Cidade Nova, Centro do Rio, no segundo andar do prédio da 6ª DP, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) também tem encontrado dificuldades em fiscalizar sites de vendas ilegais. Segundo o inspetor da DRCI, Rodrigo Valle, a delegacia age a partir de denúncias da população e das rondas virtuais. Ele reconhece que a atuação ainda é ineficiente.

– Fazemos vistorias constantes, mas não existe equipe suficiente para monitorar toda a conduta na internet. Investigamos quem cria o site, quem o acessa e quem o atualiza, mas precisamos muito das denúncias para refinar melhor a busca – disse o inspetor.

Única delegacia que apura crimes virtuais no Estado do Rio, a DRCI recebe denúncias de outras unidades.

– As outras delegacias têm ocorrências do cotidiano, e quando recebem ocorrências de natureza informática, eles instauram lá o procedimento, mas nós damos auxílio, por termos equipe especializada em investigação cibernética – disse – As investigações ocorrem nessa delegacia e nós atendemos a todo o Estado. É muito trabalho...