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Rio de Janeiro, 23 de abril de 2024


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Pluralidade religiosa não se reflete no Censo

Rodrigo Serpellone - Do Portal

12/09/2012

 Eduardo Ribeiro A pluralidade religiosa brasileira ainda não esteve representada no Censo 2010. Os entrevistados, por terem somente uma possibilidade de resposta no campo de religião, não podem mostrar sua dupla, ou tripla, religiosidade. Para a vice-diretora da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU) de São Paulo, Maria Elise Rivas, isso faz com que os números divulgados não sejam uma verdade absoluta. A dificuldade de se mensurar a diversidade de crenças pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi tema de debate no Auditório Padre Anchieta na tarde desta terça-feira (11), no ciclo O Censo e as religiões no Brasil.

No seminário, a professora Maria Elise afirmou que o número oficial de umbandistas no Brasil cresceria muito se houvesse a possibilidade de se escolher mais de uma religião no Censo. Para ela, isso diminuiria a discriminação em relação à umbanda:

– Se o IBGE permitisse mais escolhas de religião na pesquisa, teríamos uma dimensão correta da múltipla crença brasileira. O crescimento de religiões que sofrem preconceito é importante na questão social, já que isso daria coragem ao povo para dizer que é umbandista, e não católico.

A professora concluiu que os números não correspondem à realidade também porque muitas pessoas priorizam o catolicismo quando são perguntadas sobre a religião, já que foram batizadas na Igreja Católica. Maria Elise presenciou um exemplo disso no dia do debate:

– Hoje, quando peguei um táxi para vir à PUC, vi que o motorista tinha ornamentos umbandistas no carro. Perguntei-lhe qual a sua religião, e ele respondeu: "primeiro católico e depois, umbandista". Ou seja, no Censo ele seria contado como cristão, mesmo tendo a umbanda mais presente nas suas práticas diárias.

 Eduardo Ribeiro A coordenadora de licenciatura do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, Angela Paiva, afirmou que o desafio da Igreja Católica é “voltar a encantar” para crescer ou pelo menos manter o número de fiéis. Para a socióloga, o cristianismo deve mostrar a significação da fé e a vivência em comunidade:

– A vivência religiosa hoje em dia está no mundo privado. A laicização do Estado ampliou o número de religiões e permitiu que as pessoas só praticassem sua fé em casa. A Igreja Católica deve também receber o leigo em seus centros religiosos, para que ele não mude de religião.

O crescimento de evangélicos é apontado como fator principal para a queda no número de católicos. Segundo Angela, o aumento dos neoprotestantes começou com a migração do campo para a cidade, nas décadas de 1960 e 1970:

– Esses grupos desenraizados formaram parte do celeiro urbano de prática protestante, trazido principalmente pelo evangelismo pentecostal. As igrejas segregaram seu público para atrair os mais necessitados. Hoje existem centros religiosos para gays, surfistas ou qualquer outro grupo social.. Eduardo Ribeiro

Esteve presente no seminário, ainda, o diretor de ações estratégicas do Conselho Espírita do Rio de Janeiro, Alexandre Pereira. Ele enfatizou que os espíritas estão envelhecendo e que o conselho estuda alternativas para ampliar o número de jovens adeptos. Segundo dados do Censo, os seguidores do espiritismo têm em média 37 anos, a mais alta entre as religiões no Brasil. Católicos, 30 anos; evangélicos pentecostais, 27; evangélicos de missão (luteranos, presbiterianos, metodistas, batistas, entre outros), 29; sem religião, 26; umbanda e candomblé, 32.

Comparando os Censos de 2000 e 2010, o percentual de católicos caiu de 73,6% para 64,6% da população brasileira, enquanto os evangélicos subiram de 15,4% para 22,2%. O número de pessoas sem religião subiu de 7,4% para 8%; os espíritas, de 1,3% para 2%; umbanda e candomblé se mantiveram em 0,3%; e pessoas de outras religiões representam 2,7%.