Os principais contornos do desenho religioso brasileiro, como o crescimento, porém num ritmo menor, dos evangélicos e o avanço das religiões orientais nos centros urbanos, serão discutidos nesta segunda e terça-feira, na PUC-Rio. Organizado pela Cátedra Carlo Maria Martini e pelo Departamento de Teologia, o seminário O Censo e as religiões no Brasil reunirá Serão 15 palestras divididas nos turnos da manhã e da tarde, no Auditório Padre Anchieta. Para Paulo Fernando de Andrade, decano do Centro de Ciências Humanas e Teologia da PUC-Rio e responsável pela palestra de abertura, o debate ajudará a compreender melhor os dados do Censo de 2010 segundo os grupos de religião e, assim, a "construir o retrato da população". Ele observa que o levatamento confirmou as tendências observadas ao longo da última década:
— A primeira tendência confirmada é a desfiliação da área católica. A outra é o fato de que os evangélicos mantiveram o crescimento, avaliando números absolutos — destaca, apesar de o percentual de crescimento evangélico mostrar-se menor em relação ao Censo anterior.
A quantidade de católicos também manteve, para usar uma expressão da economia, o viés de baixa, mas o ritmo de queda revela-se menor. Em 2000, a Igreja Católica tinha quase 125 milhões de seguidores. Após uma década, perdeu 1,7 milhão de fiéis. Já os protestantes — evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais —, que crescem desde os anos 1980, conquistaram 16 milhões de seguidores no mesmo período: de 26 milhões, em 2000, saltaram para 42 milhões. Andrade pondera, todavia, que o número de evangélicos que não se declaram ligados a igreja aumentou: de 1 milhão para 9,2 milhões, em 2010.
— É importante avaliar os dados com parcimônia e pluralidade, para chegarmos até leituras mais precisas das mudanças referentes às religiões no país. Nesse seminário, os dados serão analisados por diversas referências: sociólogos, antropólogos e pessoas dos próprios campos religiosos — explicou o decano.
Segundo ele, uma das principais novidade do Censo 2010 que serão debatidas hoje e amanhã, na PUC-Rio, remete à estabilização do grupo sem religião. Após crescer 62% de 1991 até 2000, avançou só 8% entre 2000 e 2010. Corresponde, atualmente, 14,5 milhões de brasileiros, o terceiro maior grupo, atrás apenas de católicos e evangélicos.
A estabilização deve-se, acreditam os especialistas, pela expansão das religiões orientais e tradições esotéricas. Embora seja insuficiente para expressar um peso significativo no retrato religioso do Brsail, este avanço mostra-se especialmante acentuado nos centros urbanos. O psiquiatra e monge Alcio Braz vai explicar, na palestra O que é ser Budista?, hoje, às 16h, algumas das razões da conquista de novos fiéis no Brasil.
— Espero que possamos conhecer um pouco mais sobre as diversas práticas religiosas. Além das relações entre as práticas e a construção de identidades — anima-se Braz.
Programação reflete pluralidade:
10/09
9h-9h30 – Paulo Fernando Andrade (PUC-Rio): Abertura
9h30-10h – Carlos Steil (UFRGS): A transformação do campo religioso brasileiros e a crise do catolicismo
10h-10h30 – Clara Mafra (UERJ): Números e narrativas
10h30-11h – Silvia Fernandes (UFRRJ): Católicos e catolicismo(s) no Brasil: dinamizando os dados censitários
11h-11h30 – Debate
14h-14h30 – Diane Kuperman (Federação Israelita do Rio de Janeiro): Judaísmo no Brasil e no Censo
14h30-15h – Maria Clara (PUC-Rio): O Cristianismo histórico no Brasil: algumas reflexões te(le)ológicas
15h-15h30 – Paulo Fernando (PUC-Rio): Catolicismo no Brasil e no Censo
15h30-16h – Debate
16h-16h30 – Alcio Braz (Psiquiatra, monge responsável por Eininji): O que é ser budista?
16h30-17h – Debate
11/09
9h-9h30 – Jimmy Sudário (Faculdade Batista do Rio de Janeiro): O fenômeno evangélico no Brasil – a perda do centro e a radicalização da experiência
9h30-10h – Marco Antônio de Oliveira (Igreja Metodista do Brasil): O protestantismo frente à pentecostalização dos movimentos evangélicos no Brasil
10h-10h30 – Bruno Silveira (Comunidade Evangélica Pentecostal Sarando a Terra Ferida): Os desafios e atalhos do pentecostalismo hoje: uma leitura teológica
10h30-11h – Debate
11h-11h30 – Intervalo
11h30-12h – Sonia Giacomini (PUC-Rio): Religiões de matriz africana no Brasil e no Censo
12h-12h30 – Debate
14h-14h30 – Angela Paiva (PUC-Rio): Censo brasileiro
14h30-15h – Maria Elise Rivas (Faculdade de Teologia Umbandista, São Paulo): Umbanda entre números. Uma perspectiva religiosa no Censo 2010
15h-15h30 – Alexandre Pereira (Conselho Espírita do Rio de Janeiro): Kardecismo no Brasil e Censo
15h30-16h – Debate
16h-17h30 – Encerramento
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