Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

O mundo de Guimarães Rosa transformado em imagem

Felipe Machado - Do Portal

26/05/2008

A diretora Sandra Kogut fez o pré-lançamento de seu primeiro longa de ficção “Mutum”, no auditório do RDC da PUC-Rio, por onde é formada em Jornalismo. Sandra se disse emocionada ao voltar à universidade, e dessa vez para mostrar um trabalho seu. “Já estive muito aí no lugar de vocês e hoje estou aqui na frente. É muito especial”, disse aos alunos.

O filme é baseado na história de Miguilim, da novela “Campo Geral”, de Guimarães Rosa. Sandra não gosta da palavra adaptação, prefere dizer que é um diálogo com o conto. Para isso, usou apenas um ator profissional, João Miguel, de “Cinema, aspirinas e urubus”. O destaque do filme é o menino Thiago da Silva Mariz, cujo personagem tem o mesmo nome. Para achá-lo, ela e a roteirista, sua amiga Ana Luiza Martins Costa, rodaram o sertão mineiro a procura de crianças para os papéis. Foram cerca de mil, que ela diminuiu para 25 e juntou-os em uma pequena cidade do norte de Minas Gerais para uma oficina de duas semanas.

 - Quando comecei a filmar, já tinha uma ligação forte com as crianças, então o filme passou a importar menos que aquelas relações que ali se estabeleceram. Queria que parecesse uma coincidência, que as pessoas pensassem que foi sorte minha ter encontrado esse menino [Thiago], essa casa, e não que parecesse o trabalho que deu para fazer tudo.

Sandra não queria que ninguém soubesse que era uma adaptação de Guimarães Rosa, pois isso poderia dar um peso diferente ao filme para a equipe. Os poucos que sabiam, ela fez assinarem um termo prometendo não falar. O roteiro, segundo ela, mudou muito durante a produção. Diariamente, as cenas do dia seguinte eram reescritas, devido aos acontecimentos inesperados nas filmagens que acabavam entrando no roteiro. Ela conta que ninguém lia o texto, pois não queria que soubessem o que estava sendo feito, preferia passar oralmente. “Acho até que fomos muito fiéis ao livro. Não pelas palavras, mas pelas sensações”, disse.

A opção pela falta de trilha musical ocorreu porque Sandra achava que as músicas transformavam o filme em outro, que ela não queria exibir. Contudo, a diretora preocupou-se com os sons ambientes e em acompanhar a visão do protagonista, Thiago. Outro obstáculo na produção foi adaptar para os dias atuais um conto que se passa na década de 1950. Ela disse que ficou na dúvida se era uma história possível de acontecer atualmente.

  - Viajando pelo sertão, percebi como eles viviam isolados. Não geograficamente, mas economicamente. Então conclui que a história era possível hoje. Porém, não é um filme que se preocupe tanto com a realidade – conta.

A opção por cores menos vivas também tem uma razão. Segundo a diretora, ela não queria que parecesse um comercial. Para ela, tudo parecia excessivo, por isso optou pela simplicidade na hora de filmar. “Às vezes falam que algo é cinematográfico quando é espetacular. Não queria nada cinematográfico, nada espetacular”.