Tiago Coelho - Do Portal
20/08/2012O desabafo “como são caras as coisas no Rio!” virou um bordão tão comum quanto o “imagina na Copa!”. Quem vive no Rio ou visita a cidade não escapa de ouvir, ou pronunciar, a frase em bares, restaurantes, corretoras de imóveis. Alguns preços se equivalem e até superam os cobrados em metrópoles europeias e americanas. Esta percepção é confirmada por pesquisas internacionais como a feita pela consultoria britânica ECA International, que elegeu o Rio como a segunda cidade mais cara das Américas, atrás apenas de São Paulo.
No momento em que se a cidade eternizada pelos versos de Tom Jobim e outros bambas se projeta como sede de eventos da estatura da Rio+20, da Jornada Internacional da Juventude, da Copa 2014 e da Olimpíada 2016 e se torna Patrimônio Mundial, os cariocas veem boa parte de seus programas preferidos ganhar preços de primeiro mundo. Os valores de um show ou de um jantar não raramente ultrapassam os observados, por exemplo, em Nova York.
Para o economista da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) Christian Travassos, o aumento da renda média do trabalhador e os investimentos em infraestrutura da cidade influenciam os preços:
– O Rio está passando por um momento de altos investimentos e a renda do trabalhador aumentou consideravelmente. Isto influi sobremaneira nos preços da cidade. Sem contar a lei de oferta e procura. Está todo mundo querendo comprar imóveis no Rio.
Metro quadrado é um dos mais caro do Brasil
– Estas áreas irão receber benefícios como investimentos em transporte de massa, o que tente a aumentar o custo de vida em áreas como Zona Sul e Barra. No futuro, o epicentro da valorização terá mais gente querendo comprar apartamento. Vai pressionar o preço pra cima.
A lei da oferta e da procura, segundo Albernaz, ajuda a explicar os preços considerados estratosféricos. A qualidade de vida de bairros como Leblon, Ipanema, Gávea e Lagoa, observa o especialista, atrai compradores dispostos a pagara caro para morar nestes locais:
Especialistas nos setores imobiliário e comércio e serviços dão dicas para driblar os preços caros do Rio: Imóveis Residenciais Se trabalha em casa e não precisa se deslocar para escritórios no Centro, compre imóveis na Barra da Tijuca que tem condomínios que oferecemhome office e o valor dos imóveis são mais baratos que o da zona sul. Quem preferir aproveitar a infraestrutura da zona sul e não tem muito dinheiro disponível, Copacabana, Botafogo e Flamengo são as melhores opções, diz Alvaro Germano Albernaz. André Luis Costa aponta o recreio dos Bandeirantes como uma boa aposta para quem não quer gastar muitos, pois além de os imóveis serem mais baratos, a região vem recebendo investimentos em infraestrutura, inclusive de transportes como o BRT. Imóveis Comerciais André Luís Costa aponta a Barra e o Recreio csmo mercados potenciais para a compra de imóveis. e diz que a Freguesia tem se destacado na área de imóveis comerciais, sobretudo na Estrada dos Três Rios. Comércio Christian Travassos, da Fecomércio-RJ, diz que pesquisar preços é essencial e que a internet pode ser uma aliada para conseguir diárias de hotéis a preços mais baratos. Lazer Travassos recomenda que o visitante aproveite as belezas naturais que o Rio oferece de graça como a praia, a floresta da Tijuca, e que busque bares, hotéis e restaurantes mais afastados dos preços altos de bairros badalados como Leblon e Ipanema, como Santa Tereza, Lapa e Botafogo.os. A qualidade de vida de bairros como Leblon, Ipanema, Gávea e Lagoa, observa o especialista, atrai compradores dispostos a pagar caro para morar nestes locais: |
– A lei suprema de oferta e demanda determina o valor dos imóveis nestes locais. A oferta em determinados locais como Ipanema e Leblon é muito pequena. Tem muita gente procurando e não há apartamentos disponíveis para todos. Não tem como mudar esta situação. Porque entende-se que ali a qualidade de vida é maior, o comércio é abundante, há organização urbana e muita disponibilidade de serviços.
Para André Luís Costa, proprietário de uma imobiliária, a alta demanda por imóveis na cidade, dentre outros motivos, tem a ver com a expansão da linha de crédito e a especulação imobiliária como fatores para o aumento dos preços:
– Houve um aumento das linhas de crédito das instituições financeiras, o que fez com que o mercado imobiliário construísse mais imóveis, contribuindo para a alta do valor. Além disso, está ocorrendo uma forte especulação imobiliária com a proximidade dos grandes eventos. Quem tem imóvel em área nobre oferece um preço alto por que há compradores dispostos a pagar. Tem apartamentos em Ipanema que são vendidos acima do valor de mercado mesmo carecendo de reformas.
Albernaz prevê também uma valorização dos imóveis próximos à região portuária, no Centro. Até o fim das obras de revitalização, em 2016, a região receberá R$ 5 bilhões:
– O projeto Porto Maravilha vai ancorar dinheiro em locais onde não tinha nada antes. Vai gerar um bolsão de capitalização.
André Luís Costa aposta na "região olímpica" como área potencial para o mercado de imóveis:
– Barra, Recreio e Jacarepaguá concentram, neste momento, mais de 50% dos empreendimentos imobiliários do Rio. É uma região que oferece lazer, segurança e e comércio – avalia o empresário que diz que até a Tijuca observa alta no valor dos imóveis.
O avanço dos preços e dos investimentos não corresponde ainda a um crescimento do mercado turístico, à altura do imaginário em torno da Cidade Maravilhosa. De acordo com o Índice MasterCard de Destinos Globais de 2011, Buenos Aires é a segunda cidade que mais recebe turista na América Latina, atrás de São Paulo. O Rio ficou em 8º lugar. No entanto, o metro quadrado do imóvel no Rio custa, em média, R$ 8.200, cerca de R$ 5 mil a mais em relação à capital argentina – que está em 26º no ranking das melhores cidades do mundo para viver, feito no ano passado pelo instituto de pesquisas Economist Intelligence Unit. O Rio amargou a 42º opção.
“Rio tem aluguel mais caro que Nova York”, brasileira que mora na Big Apple
O aluguel residencial também cobra preços salgados na cidade tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade. O Índice Fipzap avaliou que o valor médio do aluguel residencial no Rio é de R$ 7.421, o segundo maior do país, perdendo só para o Distrito Federal (R$ 7.919). O uruguaio Marcelo Nikolas, que mora na capital fluminense há um ano, diz que paga mais do que o dobro em relação a Montevidéu:
– Em Montevidéu, é possível alugar um apartamento de um quarto em um bom local por um preço equivalente a R$ 400. Na Zona Sul, eu tive muita dificuldade para encontrar algo por volta de R$ 800.
Para a médica Margarita Bockorny, carioca que vive em Nova York há mais de três anos, com o marido americano, as diferenças são “gritantes” entre o valor do aluguel nas duas cidades.
– O aluguel de um apartamento pequeno em Manhattan, de um quarto, não sai por menos de 2 mil dólares. Mas há estúdios cujo valor do aluguel fica em torno de 1.800 dólares. E ainda tem a opção de morar no Brooklyn , atualmente como algumas áreas muito badaladas, Queens ou Bronx, que são áreas menos turísticas e mais afastadas de Manhattan – compara.
Preços de hotéis despertam intervenção federal
Para quem vem de fora, algumas das maiores reclamações referem-se a preços do setor hoteleiro. Diante de valores cobrados por hotéis cariocas às vésperas da Rio+20, delegações ameaçaram desistir da participação na conferência da ONU e deflagraram um princípio de crise no setor. O governo federal interveio e firmou um acordo para reduzir em 25% o valor das tarifas de hospedagem em junho. Para Christian Travassos, da Fecomércio-RJ, a intervenção do Estado é positiva no caso de abusos. Ele recomenda pesquisa de preço a quem pretende visitar a cidade.
– Acho legítimas intervenções pontuais como a que o governo fez para estancar preços excessivos cobrados por hotéis do Rio. Esse tipo de situação é muito prejudicial para o desenvolvimento econômico da cidade, pois afasta o visitante. É preciso orientá-los a pesquisarem preços antes da viagem. Há muitos lugares simples e agradáveis na cidade, como em Santa Tereza, uma área linda, com preços mais baratos.
O Copacabana Palace, símbolo do serviço de alto luxo na cidade, cobra a diária de R$ 1.440 pelo quarto com cama de casal de frente para a praia, durante a baixa temporada. No The Ritz Carlton New York Central Park, em Nova York, hotel de cinco estrelas, a diária do quarto com cama de casal e vista para o Central Park, sai, no mesmo período, pelo equivalente a R$ 1 mil.
De acordo com pesquisa do site Hotel Reservation Service, o Rio tem as diárias as mais caras do mundo: média de R$ 602. A capital fluminense é seguida de Sidney, na Austrália, com diária média de R$ 453.
“Transporte caro e ineficiente”
Já o estudante Madiano Marcheti, aluno do 4º período de Comunicação da PUC-Rio, reclama do valor cobrado pelo transporte público. Os preços, para o jovem nascido em Cuiabá, estão “fora de propósito”, sobretudo se comparados à qualidade do serviço:
– O transporte público no Rio é caro e ineficiente. Não precisa nem comparar com o metrô das cidades europeias e americanas. É só comparar com São Paulo, que tem uma malha viária mais ampla e é mais barato do que no Rio.
Em São Paulo o bilhete simples do metrô custa R$ 2,90. No Rio, sai a R$ 3,20. A malha metroviária da capital paulista, a maior do país, reúne 74,3 quilômetros, enquanto a do Rio é de apenas 40,9 km, menor que a de Brasília (42,38 km). Em Buenos Aires, o bilhete do metrô custa o equivalente R$ 1,10 e a malha viária tem 55,6 km de extensão.
Margarita engrossa o coros dos que apontam o transporte público como um dos principais serviços a serem aperfeiçoados para que o Rio se torne compatível com o cartaz internacional de sede olímpica, por exemplo. Ela compara com Nova York:
– O transporte público de massa de Nova York integra a cidade inteira. Não há a necessidade de ter um carro. Pode até ser bem inconveniente ter um carro em NY, por causa do trânsito e da falta de lugares pra estacionar.
Estacionamento é outro item que pesa no custo de vida no Rio. A cidade também é a mais cara para se estacionar no país, aponta a Associação Brasileira de Estacionamentos (Abrapark). O valor mensal de uma vaga, segundo estudo da instituição, pode chegar a R$ 660, oito vezes superior ao preço médio nos estacionamentos de Vitória e Natal, por exemplo. A diária pode chegar a R$ 70 reais, enquanto em São Paulo o valor máximo pesquisado foi de R$ 53.
Anda caro se divertir na Cidade Maravilhosa...
Do vasto e indefectível cardápio de diversão da Cidade Maravilhosa, alguns programas pesam no bolso tanto do morador quanto do visitante atraídos por cartões-postais que renderam ao Rio o título de Patrimônio da Humanidade. Um passeio de bondinho do Pão de Açúcar, por exemplo, custa R$ 53. Para chegar ao ponto mais alto da torre Eiffel, em Paris, o turista pagar o equivalente a R$ 27. A subida até o Cristo Redentor fica em torno de R$ 45. Uma volta na roda gigante London Eye, na capital inglesa, fica mais em conta: R$ 42, dependendo do pacote.
Para quem frequenta shows, bares, estádios, a conta também pode ficar alta. A lata de 350ml da cerveja Heineken, por exemplo, custa R$ 2,50 em um supermercado da zona sul carioca, enquanto em Nova York a mesma latinha custa o equivalente a R$ 1,95; em Madri, R$ 1,56; em Londres, R$ 2,20; em Paris, R$ 1,90; em Buenos Aires, R$ 1,87; em Santiago, R$ 1,47 e em São Paulo, R$ 2,13. Os valores convertidos em real foram levantados pela coluna Radar Econômico, do jornal O Estado de São Paulo.
Christian Travassos pondera, no entanto, que ainda é possível encontrar diversão boa e barata na cidade. Mas é necessário garimpar:
– Você sempre consegue atividades culturais baratas ou ate mesmo de graça.
O economista da Fecomércio-RJ recomenda que o turista se informe também sobre opções alternativas de diversão e aproveite para conhecer lugares menos concorridos da cidade, um pouco mais afastados do centro nervoso, com preços inchados:
– Os preços mais altos na Zona Sul podem se tornar um ótimo convite para o visitante, ou mesmo o morador, conhecer, por exemplo, Lapa, Santa Tereza, o Rio Antigo no Centro – indica.
Inflação puxada pelo tomate
O levantamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), observou aumento na inflação puxado pelo tomate que no Rio aumentou mais de 50% em julho. O aumento do tomate, também inflacionou o preço da cesta básica na cidade, que segundo o último levantamento Fecomércio-RJ, subiu 0,34% na primeira semana de agosto, comparado à semana anterior. Passou de R$ 463,93 para R$ 465,50.
As mudanças no custo de vida foram sensivelmente observadas por Margarete Bomfim assim que se mudou para Nova York, conforme ela relata:
– Eu percebo, comparando as duas cidade, que o custo de vida no Rio é maior. O supermercado é mais caro, a gasolina também, as opções de lazer são mais caras também.
Se o Rio de Janeiro, há dois anos dos principais eventos esportivos afugenta os turistas com preços acima da média, imagina na copa?
Confira os produtos e serviços que no Rio são mais caros do que em cidades que oferecem melhor estrutura e atendimento (valores convertidos em real). Imóvel (compra) Rio (média por metro quadrado) Buenos Aires Diária em hotel Copacabana Palace em baixa temporada (quarto com vista para o mar e cama de casal) The Ritz Carlton New York Central Park (quarto com cama de casal e vista para o Central Park) Transporte Metrô do Rio Metrô de Buenos Aires Pontos Turísticos Corcovado (Cristo Redentor) London Eye (Roda Gigante) |
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