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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Cidade

Tempo crescente no trânsito impõe fatura múltipla

Patrícia Côrtes - Do Portal

01/08/2012

 Maria Christina Corrêa

Maria Eduarda Gomes, de 20 anos, mora em Vargem Pequena, zona oeste do Rio, e não raramente leva mais de duas horas para chegar à PUC-Rio, na Gávea, onde estuda jornalismo. A rotina dela, semelhantes a de milhões Brasil afora, confirma o crescimento do tempo consumido no trânsito e expõe a necessidade de políticas públicas e comportamentos que aliviem um transtorno crônico em metrópoles como Rio e São Paulo. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 22% dos moradores do Grande Rio e 23,2% dos paulistanos gastam mais de uma hora do deslocamento da casa para o trabalho, índices bem superiores à média nacional de 9,5%.

As horas subtraídas pela maratona entre pára-choques e faróis causam prejuízos múltiplos, alguns despercebidos, outros prolongados, alertam os especialistas. Sacrificam desde a saúde e os nervos até o meio ambiente e os próprios veículos. Produzem uma fatura signifiactiva, a começar pela esgotamento físico e mental.

– Sinto um tipo de revolta. Porque você sai cansado do trabalho ou faculdade, pega o ônibus lotado, vai em pé, e ainda tem que aturar a cidade toda parada. Confesso que às vezes tenho vontade de chorar quando vejo que o trânsito está muito ruim – lamenta Maria Eduarda.

A angústia da estudante é qualificada pelo clínico-geral Dirceu Rodrigues Alves, diretor do Departamento de Medicina Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), como "estresse mental", decorrente do medo de ficar no trânsito e não conseguir chegar ao destino no horário desejado. O médico destaca dois outros tipos de estresse comuns nessas circunstâncias: o físico, que causa dores de cabeça, nas costas, nos braços e nas pernas; e o social, resultante do medo de ser assaltado ou agredido enquanto se está no carro.

– As pessoas que estão expostas a esse tipo de situação diariamente devem  ter cuidado redobrado com a saúde. Mexer as pernas e os pés em movimentos circulares evita o inchaço e dores musculares. Para não prejudicar a coluna, o banco do motorista deve ter inclinação em torno de 110º. Ouvir músicas preferidas também ajuda a relaxar, aliviar a tensão que pode se desdobrar em problemas físicos – orienta o especialista.

Para atenuar os efeitos dos engarrafamentos diários, a jornalista Viviane Medeiros, professora de Comunicação da PUC-Rio, incorporou os alongamentos à rotina que inclui de 40 minutos a hora e meia no trânsito. Assim ela passou a suportar melhor a jornada entre a sua casa, na Barra, e a universidade da Gávea. 

– Eu me alongo logo que acordo, antes de pegar o carro. Desde que comecei a fazer isso, me sinto menos estressada. Meu dia e meu trabalho ficam melhores – comemora.

Para se distrair na viagem até a PUC, Maria Eduarda elegeu a música como aliada. O smartphone também ajuda: conversa com os amigos e navega na internet. Em época de provas, aproveita o tempo no tráfego para estudar.

O músicoterapeuta Eli Ramos reforça que os acordes têm um grande potencial na batalha contra o estresse do trânsito. Ele alerta, no entanto, para a importância da escolha do repertório:

– O melhor é que seja uma música clássica, sem letra, para que as pessoas não desviem completamente a atenção do trânsito, apenas fiquem menos estressadas.

 Arte: Carlos Serra O pára-e-anda diário prejudica ainda os veículos e aumenta os gastos de manutenção. O engenheiro mecânico Cláudio Costa explica que o trânsito intenso diário pode diminuir em 20% a vida útil dos componentes de um automóvel. A caixa de marcha, os freios, o motor e a suspensão são as partes mais prejudicadas.

– Os carros mais antigos, que tem carburador, sofrem mais, principalmente no motor, que esquenta muito – explica.

O professor Ricardo Teixeira, do Departamento de Engenharia Mecânica da PUC-Rio, acrescenta que outros fatores também contribuem para precipitar a vida útil do veículo, inclusive a direção "nervosa":

– Frenagens bruscas e golpes de direção também prejudicam a durabilidade do carro. Fazer revisões regulares e dirigir com cuidado podem atenuar os efeitos do dia a dia – ensina.

Os engarrafamentos também trazem mais poluição ao meio ambiente como alerta Costa:

– Como o carro fica toda hora andando e parando, o sistema injeta uma quantidade maior de combustível, que é queimado e polui.  

Prefeitura aposta em obras

A prefeitura do Rio tenta melhorar o trânsito com mudanças estruturais, tais como:

Mergulhão do Campinho: finalizado em maio;

Ampliação do viaduto de Madureira: também finalizado em maio;

Construção do novo Terminal Alvorada, na Barra: a obra será concluída em dezembro de 2013;

Construção da Ponte Estaiada da Barra: a inauguração está prevista para maio de 2013.