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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Economia

Estudantes movem o bonde dos 27 milhões de empreendedores

Vítor Afonso - Do Portal

11/09/2012

 Arte: Carlos Serrra

Impulsionado pelo aumento de renda e pela estabilidade econômica da última década, cresce o volume de brasileiros com negócio próprio. Somam 27 milhões, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada anualmente, em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP). O volume representa um salto de 21%, em 2002, para 27% da população entre 18 e 65 anos, no ano passado. Este cenário, favorecido pela injeção econômica da Copa 2014 e da Olimpíada 2016, representa novas oportunidades para jovens como Flávia Dias, recém-formada em Jornalismo pela PUC-Rio. Espera que os conhecimentos de Comunicação ajudem a embalar os negócios, que ganharam outra direção: ela abriu, no mês passado, duas lojas de cupcakes, na Barra e no Leblon, que se juntam à original, montada em 2010, também no Leblon. 

Em busca de indepedência financeira ainda como estudante, Flávia decidiu investir, há dois anos, no segmento de franquia. Com suporte financeiro da mãe e sócia, Eliane Braga, e apoio do Instituto Genesis, aportou R$ 200 mil para abrir uma loja da Cups & CO no Leblon. Ela confessa que a "imaturidade empresarial" e a falta de planejamento econômico dificultaram a abertura do negócio. Para superar as estatísticas pálidas sobre o fôlego dos novos empreendimentos no país – 63% deles fecham as portas em menos de dois anos de atividade, aponta levantamento do Sebrae –, Flávia teve de conciliar a capacitação empresarial com a formação jornalística. Passada a arrebentação do mercado, diz que a independência financeira compensou os problemas enfrentados:

 Arquivo pessoal – É muito bom construir meu futuro financeiro independentemente da minha família. Valeu a pena o sacrifício inicial. Agora, penso em abrir novas frentes – anima-se a empresária de 24 anos, que, a pedido da sócia, não revela a taxa de retorno.

Depois de montar duas lojas no Leblon e uma na Barra, Flávia planeja expandir o negócio para o exterior. Não sem antes fazer uma detalhada análise de cenário, para estudar características locais e a concorrência. Ela observa que a radiografia do setor é um dos cuidados essenciais a quem pretende empreender: 

– É preciso estudar a concorrência, ver se há espaço no mercado e se antecipar às novidades – sintetiza.

Para aproveitar os ventos favoráveis, como os negócios embladas pela Copa e pela Olimpíada, o jovem deve estar atento aos rumos do mercado e qualificado de acordo com as novas demandas empresariais, orienta a gerente de empreendedorismo do Instituto Gênesis da PUC-Rio, Júlia Zardo. Ela avalia que, pelo menos até 2016, o Brasil será a bola da vez:

– O mundo está olhando ainda mais para o Brasil atualmente por causa de grandes competições. Estes eventos aquecem a economia e aumentam as oportunidades de mercado.

Segundo o Sebrae, as áreas de serviços e comércio são as que mais crescem no país, seguidas de perto por atividades voltadas para entretenimento e qualidade de vida. Gerente de educação do Sebrae/RJ, Francisco José Marins Ferreira aponta a "falta de conhecimento do mercado por parte do empreendedor e a falta de planejamento" como os prioncipais obstáculos aos novos negócios. Ele reforça a importância de o empreendedor se cercar de informações precisas, consistentes:

– Em primeiro lugar, deve-se buscar informações sobre o negócio, a concorrência, a legislação e os clientes. Assim, reduz-se o risco. Quando a empresa estiver funcionando, torna-se necessário manter-se capacitado.

Ferreira destaca também que ainda se observa no Brasil uma "forte tendência" de abertura de pequenos negócios não por oportunidade, mas por necessidade, cujo sucesso se torna mais difícil. Segundo ele, negócios assim, movidos menos pelo planejamento que pelo ímpeto, e “sem o mínimo de informação necessária resultam na mortalidade das empresas”:

 Arquivo pessoal – Acontece, por exemplo, quando alguém fica desempregada e busca meios para gerar renda. O que precisamos é incentivar pessoas que possam abrir negócios enxergando oportunidades reais. Estas pessoas garantem os empregos do país e desenvolvimento do mercado.

Os estudantes da PUC-Rio Victor Oliveira e Rodrigo Salles enxergaram uma oportunidade extraída no convívio universitário. Criaram, no fim do ano passado, a empresa Ver, para facilitar a integração entre  as agências publicitárias e os alunos. Victor aplica conhecimentos adiquiridos no curso de Comunicação e Rodrigo, estudante de Administração, cuida da gestão. Embora considerem o retorno já "positivo", até pela experiência empreendedora, reconhecem a dureza de concorrer com firmas tradicionais.  

– Você precisa dar o seu melhor para que seu negócio tenha o resultado esperado. É complicado gerir um negócio iniciante porque todo mundo quer buscar o espaço no mercado e é difícil brigar com empresas já consolidadas – diz Victor.

Cynthia Salles A também estudante Buanna Antunes Rosa transformou os docinhos apreciados pelos colegas de escola numa forma de aumentar o seu orçamento e ajudar nos gastos universitários. Empolgada com o sucesso nos corredores da PUC-Rio, a jovem pensa em  estruturar melhor o negócio para estendê-lo a outras universidades. Ela pondera os desafios e as recompensas deste tipo de iniciativa:

– Como ponto negativo, tem o fato de tudo ficar sob minha responsabilidade. Porém, é excelente você ser dono do seu próprio negócio. Você sabe quando e como pode fazer, além de ser bastante prazeroso lidar com o público. Aliás, aprendi com o meu pai, que é vendedor, a lidar com o público – conta Buanna.

 Vítor Afonso Embora seja dominante entre jovens, o mergulho no empreendimento próprio também é opção crescente entre profissionais mais experiente. Caso da professora de adminstração Solange Borges, de 51 anos, que planeja aproveitar o talento com arranjos florais para abrir um negócio depois da aposentadoria. A ideia é vendê-los pela internet, reforçando uma categoria de empreendimento que movimentou R$ 18,7 bilhões no ano passado, de acordo com levantamento de e-bit. Prudente, ela estuda a melhor forma de captar recursos para consumar o "sonho de cvriança":

– A captação de dinheiro e a responsabilidade total das operações administrativas dificultam o negócio. Além disso, é complicado ter tempo para preparar estudos e pesquisas da área.

Para embalar o sonho do negócio próprio:

1- Colher informações sobre o setor de atuação, referentes, por exemplo, a legislação, clientes e concorrência.

2- Capacitar-se para a iniciativa. Buscar cursos sobre empreendedorismo e programas de apoio aos novos empresários.

3- Elaborar  um plano de negócios cuidadoso, que inclui, por exemplo, o levantando os recursos disponíveis, dos possíveis gastos e das características da empresa.

4- Fazer uma análise constante do setor, acompanhando os movimentos do mercado e da concorrência.

5- Registrar os dados da empresa, para acompanhá-los, processál-los e revisá-los, de maneira que sirvam de basa para o desenvolvimento de estratégias de crescimento.

6- Manter o negócio atualizado, identificando novas alternativas e oportunidades.