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Rio de Janeiro, 18 de abril de 2024


Cidade

Mobilização sustentável esbarra em velhos hábitos

Monique Rangel e Vítor Afonso - Do Portal

19/06/2012

 Maria Christina Corrêa

Até a noite de desta segunda (19), 150 mil pessoas, entre cariocas e estrangeiros, participaram das oficinas e debates na estrutura de ferro, correspondente a um prédio de seis andares, montada no Forte de Copacabana. Oposta à dificuldade do pacto internacional em torno dos objetivos sustentáveis, a adesão popular Humanidade 2012 – refletida, por exemplo, em filas quilométricas – ainda é insuficiente para transformar os dicursos em práticas verdes.

Por um lado, atividades como o jogo de laser que simboliza as conexões entre os habitantes do planeta e os paineis que mostravam os avanços e riscos da civilização aguçam a diversão e a consciência ambiental dos visitantes da Humanidade 2012, que segue até a próxima sexta. Por outro, basta uma volta por aquele pedacinho de terra entre Copacabana e Arpoador para perceber deslizes crônicos. Nas lixeiras para materiais não recicláveis espalhadas pelo Forte, são observados copos e papeis. Na praia a poucos metros dali, o lixo jogado por banhistas assina na areia o recibo do atraso mantido por velhos hábitos. Nas ruas adjacentes, o trânsito tumultuado lembra um dos principais desafios para líderes locais e mundiais. 

 Maria Christina Corrêa Sábado passado, quando a mostra recebeu 45 mil visitantes, o corredor de entrada externo acolhia um pequeno exemplo da distância entre retórica e ação: luzes mantinham-se acesas por volta das 11 da manhã. Informada pela equipe de reportagem do Portal, a assessoria do projeto prometeu corrigir o descuido.

Parte do público ávido por participar da exposição sustentável se esquece de estender tal engajamento à forma com que se defaz do lixo. Nas lixeiras para materiais orgânicos, uma série de copos e papéis contratam com a efervescência ecológica dos corredores. A estudante Mariana Prado, de 9 anos, da quarta série do ensino fundamental, reprova a falta de educação ambiental:

– Aprendi na escola, eme casa, a sempre respeitar o meio ambiente. Jogar lixo na lixeira certa para reciclar – ensina a menina, que foi ao Forte acompanhada da avó, a professora aposentada Agnes Milly.

 Maria Christina Corrêa Na praia de Copacabana, o lixo na areia também confronta a mobilização ao lado. O analista de sistemas O surfista Sérgio Ferreira  repudia ações de degradação de "seu habitat”, mas confessa que não tem participado da Rio+20:

– Estou participando pouco. Soube que as negociações não avançaram muito, o que é decepcionante. Mas, de qualquer forma, defendo os valores sustentáveis e uma economia sem prejudicar o meio ambiente.

Maria Christina Corrêa A necessidade de mudanças de hábitos cotidianos – do consumo ao aproveitamento do lixo – ainda representa um dever de casa tão ou mais importante quanto o envolvimento nas causas, discussões, mobilizações ambientais. Neste ponto, pode-se dizer que o Rio avançou em relação à conferência de 20 anos atrás. A procura na exposição do Forte tem sido tão grande que os organizadores estudaram prorrogá-la.

Logo na entrada, uma longa fila indica o tamanho da adesão. No corredor para as nove salas da mostra, 40 visitantes entram a cada três minutos. Experiências sensoriais ajudam o público a entender os ganhos e os perigos do mundo em degradação e os passos para torná-lo sustentável.

Numa das salas, a iluminação forte e um enorme ventilador simulam as forças da natureza. Noutra, um contador eletrônico indica a o número de nascimentos no planeta. Nas TVs, especialistas ambientais, como o economista e professor da PUC Sérgio Besserman. esclarecem aspectos centrais da sustentabilidade. entrevistas com especialistas,

Representantes de diversas gerações e regiões se encontram no Forte. O engenheiro sanitarista ambiental e historiador Márcio Cardoso veio de Florianópolis com um grupo de mais 20 "companheiros": integrantes. “Trazemos a contribuição de Santa Catarina para a Rio+20. Essa onda civilizatória nos permite estar aqui e propor ideias para um mundo melhor”.

Também empolgado com a "onda civilizatória", o administrador de empresas Renato Regazi está otimista em relação à Rio+20, apesar da dificuldade em torno do consenso das ações ambientais entre paises ricos e pobres. Para ele, só a "disposição de um encontro" já significa um passo para a defesa do planeta.

– A união de pessoas de todo o mundo terá efeitos positivos. A sociedade, ao ter acesso a essas informações, vai poder eleger políticos que reflitam sobre a questão. Daqui a 50 anos, as pessoas vão olhar para nós como primitivos. Os profissionais do futuro, como engenheiros e arquitetos, vão pensar conscientemente na hora de construir – prevê Renato.