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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cidade

Lagoa Rodrigo de Freitas ganha nova revitalização

Amanda Reis - Do Portal

25/05/2012

 Ligia Lopes

Tradicional área de lazer da Zona Sul, a Lagoa Rodrigo de Freitas vive uma nova fase de revitalização, com a reabertura do Parque dos Patins, reformado, e novidades como a casa de espetáculos Miranda e um polo gastronômico, ambos na área do Cinépolis Lagoon, no antigo estádio de remo. Do mesmo lado, a academia Estação do Corpo foi fechada para dar lugar ao Parque Radical, que promete ter a primeira pista de bicicross do estado, pista de street em concreto para a prática de bike, skate, patins, minivelódromo, muro de escalada e tirolesa.

Após um ano de reforma, o Parque dos Patins foi reinaugurado no último dia 12. O lugar ganhou um novo deck com madeira ecológica, a substituição de brinquedos para a criançada, 152 novos pontos de iluminação, a recuperação da ciclovia e novo trecho de grama. O calçadão de pedras portuguesas foi refeito, e exemplares de árvores como a palmeira imperial e o ipê roxo foram plantados no local.

No Lagoon, foi aberto no dia 3 de maio o Lagoon Gourmet, que reúne filiais dos restaurantes Gula Gula, Pax Delícia, Quadrifolio Caffe, Giuseppe Grill e o bar San Remo. Os quatro se interligam através do bar: quem está nele pode pedir um prato de qualquer restaurante. Mas o carro-chefe do centro gastronômico, como ressalta o empresário Roberto Maciel, é o cenário privilegiado. Maciel destaca a vista, que proporciona a sensação de estar num navio – não há nada em frente aos olhos, apenas o espelho d’água. Ligia Lopes

– A Lagoa é o lugar mais bonito da cidade. Está na hora de os cariocas mostrarem o seu valor e se apresentarem para o mundo. Não tenho culpa se Deus quis ficar mais tempo no Rio do que em São Paulo; só fiz a minha parte – brinca.

O empresário espera fazer valer o investimento de R$ 15 milhões, “mantendo o padrão dos serviços, sem perder a qualidade”. O espaço pode receber até 800 pessoas, atendidas por 246 funcionários. O público alvo, a princípio, é o carioca, mas Maciel espera atrair também turistas nacionais e estrangeiros. Outra proposta do polo é alongar a noite carioca, como acontece em Madri, por exemplo.

Ligia Lopes – É muito bom sair de um show e ir jantar. Ultimamente, os restaurantes estão fechando cedo.

Ainda no Lagoon, a casa de espetáculos Miranda, com nome inspirado na cantora Carmen Miranda, foi inaugurada em março, com show de Gal Costa, e prometendo uma programação variada, com espetáculos de teatro, palestras, exposições, shows nacionais e internacionais. Depois de uma temporada de Adriana Calcanhotto, esta semana a atração é a cantora Alcione. A proposta do lugar, empreendimento do grupo MPB Brasil, é oferecer uma programação cultural diversificada e de qualidade. Com ingressos que chegam a R$ 400, a casa estende a meia-entrada a clientes cadastrados.Ligia Lopes 

Mais democrática é a oferta de programas ao ar livre. Além da pista renovada e dos brinquedos reformados no Parque dos Patins, os adeptos de esportes radicais ganharam um bowl para os skatistas no Parque dos Taboas, entre o Clube de Regatas Flamengo e o Caiçaras. A pista foi reformada e liberada ao público no dia 16 de março deste ano. Foram substituídos o guarda-copo de 22m, o tubo que protege o bowl e o piso. E um novo espaço de lazer e esporte foi planejado para a área onde funcionava a Estação do Corpo, retomada pela prefeitura no mês passado. O Parque Radical, porém, ainda não tem data prevista para abrir. Segundo o diretor da Fundação Parques e Jardins, Sydnei Menezes, o projeto, de R$ 5,4 milhões, está ainda em fase embrionária: “Foi feita uma proposta, e agora a viabilidade técnica está sendo analisada”.

 Ligia Lopes

A Lagoa é comumente associada à prática de esportes. Desde a sua urbanização há quadras de futebol, basquete, tênis e área de patinação. De acordo com a autora do projeto do Parque Radical, a arquiteta Cristina Monteiro, a prefeitura adapta o espaço às necessidades da população. Em meados da década de 1990, foi criada uma área para os skatistas, que sentiam faltam de um lugar para praticar. Assim, nasceu o Parque das Taboas, também projetado por Cristina. Segundo a arquiteta, o Parque Radical tentará atender outras tribos que não têm ainda seu lugar ao sol.

– O Estado do Rio não tem nenhuma pista de bicicross. Vamos buscar satisfazer os ciclistas e inovar em outros esportes que a cada ano se reinventam.

Feira da Providência, Tivoli Park, drive-in

O entorno da Lagoa faz a alegria dos cariocas como área de lazer há muitas gerações. A área hoje ocupada pelo Parque dos Patins já abrigou a Feira da Providência, nas décadas de 1960 e 1970, um parque de patinação, um drive-in – bem antes das edições Open Air – e o Tivoli Park, até a década de 1990. O drive-in reunia famílias e casais apaixonados como a agente de viagens Daniela Faria, 48 anos, e o taxista Luiz Antônio Tavares, 52 anos. Daniela conta que, aos 16 anos, assistiu ao filme Menino do Rio com o namorado, hoje seu marido. Ela conta que era um máximo ir ao drive-in, apesar da baixa qualidade da imagem da época.

– Frequentei o drine-in desde a infância, com meus pais. Lembro-me perfeitamente do dia em que fomos ver Se meu fusca falasse. Era muito divertido pôr as bandejas no carro para apoiar o refrigerante, a pipoca, o cachorro-quente.

A agente de viagens tem também o Tivoli Park nas suas recordações. O parque abriu as portas pela última vez no dia 17 de dezembro de 1995. Ela conta que foi o primeiro grande parque de diversões da Zona Sul do Rio. Não ia sempre, porque não era um programa barato, mas entre seus brinquedos favoritos estavam a montanha russa e a roda gigante, que proporcionava uma visão panorâmica da lagoa.

– O Tivoli faz falta. Lembro que uma prima levou bolo, docinho e refrigerante para comemorar o aniversário no parque. Eu me empanturrei de brigadeiro e fui brincar no Chapéu Mexicano, que é um brinquedo que gira o tempo todo. Imagina! – lembra, rindo.

Logo ao lado, funcionou a badalada pista de patinação Roxy Roller, que viria a dar lugar à boate Mamão com Açúcar em meados dos anos 1980. Enquanto as pessoas patinavam, podiam ouvir o que havia de melhor no cenário musical da época. A Papagaio Disco Club, uma das mais famosas boates da década de 1970, recebia o público alternativo. Posteriormente, o lugar se transformou em outras boates: Resumo da Ópera, Meli Melo, Gattopardo, e hoje abriga a Club Praia.

Em 1998 foram abertos quiosques no Parque dos Patins (foto) e nas proximidades do Corte do Cantagalo. Os cardápios, variados, contemplam da cozinha brasileira à japonesa, passando pela italiana, a baiana, a árabe. O Arab, no Parque dos Patins, é um dos mais tradicionais. Entre a nova geração, Palaphita Kitch, no Cantagalo, é dos mais concorridos, com uma concepção ecológica desde os pratos até a decoração. Os pratos privilegiam a cozinha orgânica baseada em ingredientes nativos da Amazônia, como o cupuaçu e a macaxeira.

Também frequentadora do antigo drive-in, a advogada Carly Alves, 50 anos, foi assídua frequentadora dos quiosques nos anos 90, quando o filho Bruno, hoje com 20 anos, era criança.

– Costumávamos ir muito ao Parque dos Patins. Enquanto meu filho brincava, eu ficava nos quiosques, curtindo a vista – conta.

Ainda no Cantagalo ficam os pedalinhos e o Parque da Catacumba, que preserva espécies da Mata Atlântica. A reserva tem uma trilha que leva ao ponto mais alto do morro, onde um mirante permite apreciar uma das mais belas vistas da Zona Sul. Revitalizado pelas beiradas, o cartão-postal do Rio abriga desde 1996 a árvore de Natal mais famosa da cidade e tem uma das queimas de fogos mais procuradas no réveillon, atraindo milhares de pessoas. Divulgação/EBX

O carioca espera agora a despoluição da lagoa propriamente dita. Para isto, está em execução o projeto Lagoa Limpa, idealizado pelo grupo EBX, de Eike Batista, em parceria com o governo do estado e a Prefeitura do Rio. Segundo o geógrafo Eduardo Cruz, até o fim do ano será concluída a primeira fase, com a gestão de resíduos sólidos; a dragagem do Canal do Piraquê e outros pontos críticos de assoreamento; a revisão do sistema de esgotamento sanitário; a revitalização dos rios dos Macacos e Cabeça; a investigação e eliminação de ligações clandestinas na rede de drenagem pluvial; e o monitoramento da qualidade de água para verificação dos resultados obtidos.

A etapa seguinte é promover a troca de água entre a lagoa e o mar. Avaliações estão sendo feitas pela prefeitura para confirmar a viabilidade técnica e ambiental da instalação de tubulações sob a faixa de areia da praia. De acordo com o coordenador de Recursos Hídricos da prefeitura, Alexandre Debones, após esta análise serão realizadas uma audiência pública, a licitação e a contratação da empresa. Se tudo correr bem, Debones acredita que as obras se iniciem ainda este ano.