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Rio de Janeiro, 26 de julho de 2024


Economia

Novas regras na poupança não assustam, mas confundem

Caio Lima - Do Portal

11/05/2012

 Arte de Jefferson Barcellos

A mudança nas regras para aplicação em cadernetas de poupança, adotada no último dia 4 pelo governo federal, causou diferentes reações na área econômica. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) agiu de forma adversa no primeiro momento, pondo em dúvida a eficácia das medidas ao afirmar que a baixa nos juros não seria garantia de mais créditos. Mas economistas acreditam que a medida da presidente Dilma Rouseff foi correta. Para os poupadores, no entanto, o momento é de dúvida.

De acordo com as novas regras, as aplicações efetuadas após o dia 4 passam a ter rendimento de 70% da taxa básica de juros (Selic) mais a Taxa Referencial quando a Selic for igual ou inferior a 8,5% ao ano. Quando a Selic estiver acima do patamar dos 8,5%, as regras antigas continuam valendo.

Para o economista Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, a nova medida foi adotada de forma inteligente, pois preserva os direitos adquiridos, não afetando os antigos poupadores.

– Agrada justamente porque a mudança flexibiliza a política monetária e ao mesmo tempo não quebra as regras do jogo, o que é muito importante para a estabilidade e para o estímulo da poupança doméstica brasileira, que ainda está em nível baixo em comparação aos padrões internacionais – afirma o economista.

Langoni destaca que o momento é oportuno pois, agora, existe espaço para alguma redução da taxa básica de juros (Selic), embora acredite que as reduções dos juros serão moderadas.

De acordo com Langoni, mantendo-se a tendência da inflação acima do centro da meta, no próximo ano o Banco Central vai ser obrigado a elevar Selic.

– Por isso gostei da mudança, pois, caso a Selic suba acima de 8,5%, as regras voltam ao esquema anterior.

Langoni ressalta que a medida adotada pelo governo Dilma em nada se assemelha com o confisco da poupança realizado no início do governo Collor. Ele lembra que na época houve um congelamento da poupança, e agora foi uma mudança apenas para novos depósitos.

– Não houve quebra de contrato. Pelo contrário, a nova medida soma positivamente à percepção externa de risco do Brasil, que é um país confiável em que as regras do jogo para investimentos financeiros e produtivos são respeitados – ressalta.

 Jorge Neto Essa relação entre os governos Dilma e Collor foi a dúvida do aluno de mestrado em Geografia da PUC-Rio e professor da rede pública Renato Candido, de 25 anos:

– Eu era muito pequeno no confisco do governo Collor, mas meu pai foi prejudicado. Ele foi reembolsado há apenas dois anos e, quando vimos juntos as mudanças nas regras, pelo noticiário, ele se virou para mim e indagou: “Será que vai acontecer de novo?”.

Candido conta que já no dia seguinte ao anúncio procurou o banco para saber detalhes das mudanças. Ficou aliviado ao ser informado que, seus depósitos anteriores não serão afetados. Mesmo assim, as dúvidas persistem:

– Prefiro confiar no banco, mas o problema é que ouço boatos de que poderia ser prejudicado. O porquê da mudança, sinceramente, ainda não entendi muito bem – confessa Candido.

Já o técnico em informática do Departamento de Letras da PUC-Rio Eliakin Marques, 27 anos, ficou sabendo das novas regras pelo site do banco. Assim como Barreto, não entendeu claramente as mudanças:

 Jorge Neto

– A diferença em porcentagem consigo entender, mas não sei como isso pode se refletir na minha renda. Não li a cartilha da mudança porque é complexa. Não sei se é positiva ou negativa mas, por enquanto, não me sinto ameaçado com as novas regras.

O gerente comercial da agência do banco Santander localizado no campus da PUC, Rodrigo Barreto, afirma que a maioria dos poupadores se preocupa mais com a segurança da poupança do que com a própria rentabilidade. Barreto conta que, desde o anúncio das mudanças, clientes o procuram para saber se melhorou ou piorou.

– Explico que, se for poupar para captar recursos para fins de investimento, é positivo. O problema é que muitos saem daqui dizendo que entenderam e percebo que, no fundo, estão cheios de dúvida. A complexidade é maior porque agora são dois cenários: antigos poupadores e novos poupadores – relata o gerente.