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Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Ciência e Tecnologia

Corte em verba de Ciência e Tecnologia preocupa setor

Caio Lima - Do Portal

03/04/2012

 Mauro Pimentel / arquivo

O corte de 23% no orçamento anual do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), equivalente a R$ 1,5 bilhão, gerou uma onda de insatisfação e insegurança por parte de entidades industriais, científicas e tecnológicas em relação ao futuro do desenvolvimento do Brasil. Eles argumentam que o corte é um retrocesso aos investimentos que vinham sendo realizados nos últimos anos pelo ministério, podendo prejudicar diferentes setores da economia do país.

A medida do MCTI levou órgãos como Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), entre outros, a publicar um manifesto na imprensa no último dia 20.

Para a gerente de Desenvolvimento e Inovação do Sistema Firjan, Ana Arroio, a necessidade de rever a decisão que reduziu os recursos do MCTI é urgente. Ela endossa que ciência e tecnologia são fundamentais e que, se não for criada essa base, o Brasil será uma “nação frágil” no futuro:

– Temos a necessidade de competir com os países desenvolvidos que investem há muitos anos na formação humana e tecnológica. Estamos incentivando a presidente Dilma Rousseff a repensar os cortes no orçamento, para que estes não sejam automáticos, quase sempre nas questões estruturantes do país.

Ana acredita que todos os setores da economia podem ser afetados pelo corte, direta e indiretamente. Segundo a gerente de Tecnologia e Inovação da Firjan, os produtos inovadores geram grandes impactos em toda a cadeia produtiva:

– Eles agregam valor aos produtos brasileiros, racionalizam os processos de produção, produzem riqueza, distribuem renda, geram empregos e transformam as empresas e o país.

Ana lembra ainda que o corte no orçamento do MCTI tem impacto direto na competitividade das empresas, “já que inovação é um de seus pilares estruturantes”. Ela afirma que a proporção do contingenciamento prejudica a capacidade das empresas brasileiras de agregarem valor aos produtos e processos e, consequentemente, de reverterem o déficit crescente da balança comercial.

O governo tem a meta de elevar o atual patamar de 1,2% para 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. Segundo Ana, esse número, que para ela é muito importante, dificilmente será alcançado com o corte no orçamento.

 Divulgação ABC O presidente da ABC, o matemático Jacob Palis, afirma que, sem uma “dinâmica de crescimento”, será difícil desenvolver novos projetos que, segundo ele, são fundamentais para o crescimento do Brasil:

– O país avançou muito e vai resistir, mas dificulta a realização de novos projetos de grande monta, limitando o que vem pela frente.

Palis afirma que ainda é prematuro dizer quais áreas serão mais afetadas com o corte.

– Vai depender muito do Executivo, que tem certa flexibilidade para apontar onde serão gastos os recursos. A princípio é bem possível que não haja cortes profundos em números de bolsas e no apoio a pesquisadores – acredita o presidente da ABC.

 Divulgação CGEE De acordo com o engenheiro metalúrgico e professor do Departamento de Engenharia de Materiais da PUC-Rio, Fernando Cosme Rizzo Assunção, também da ABC, o impacto é significativo pelo fato de ser necessária a continuidade nos investimentos do setor de ciência, tecnologia e inovação:

– Os resultados nessas áreas não são imediatos, e cada interrupção em programas pode desmontar equipes e requerer longo tempo de recuperação. O que preocupa é o fato de o governo ter indicado que esta seria uma das áreas prioritárias por reconhecer que é a responsável pelo desenvolvimento sustentável de um país.

Rizzo ressalta que, como uma das metas da nova estratégia nacional de ciência, tecnologia e inovação é aumentar a participação das empresas no esforço de produção e desenvolvimento do país, este corte faz uma sinalização péssima, “tanto que a própria indústria participou do manifesto público”.

Também membro da ABC, o engenheiro elétrico e pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) – que pertence ao MCTI – Marcelo Dutra Fragoso é mais crítico e afirma que o governo federal está cometendo uma “série de contradições”, afetando a euforia que existe hoje em torno do Brasil:

– Num momento em que a demanda por pesquisa será maior por causa, por exemplo, do pré-sal, um corte de 23% no orçamento impossibilita aumentar o número de bolsas de pesquisas do CNPq, o que pode desmotivar os jovens pesquisadores.

Fragoso lembra que o número de doutores formados tem crescido e por isso seria importante uma “sinergia”, ou seja, aumento das bolsas do CNPq e da oferta de vagas nas universidades. “Isso deve dificultar as contratações daqui para frente”, acredita o engenheiro elétrico.

– Como vou chamar um jovem sênior que esteja no exterior para participar de uma pesquisa se, de repente, ele fica sabendo desse corte? – questiona Fragoso, que afirma que os países desenvolvidos devem voltar a olhar o Brasil com insegurança.

Ainda de acordo com Fragoso, o programa Ciências sem Fronteira não deve sofrer contingenciamento. No entanto, acabaria prejudicando outros programas do ministério, “a menos que fundos setoriais venham compensar as perdas”.

 Divulgação ABC Na opinião de outro integrante da ABC, o engenheiro civil Luiz Bevilacqua, é compreensível que em época temporárias de crise haja redução, mas afirma que o volume proposto pelo MCTI significa um golpe que pode levar a uma queda brutal, sendo irrecuperável no futuro.

– Se o governo federal começa a fazer cortes que vão até prejudicar a formação de pessoal do setor tecnológico e cientifico, onde o Brasil está ocupando bom lugar, era preferível que não tivessem nem investido antes. Não só a formação de pessoal será prejudicada como também as pesquisas que já vinham sendo realizadas, que podem até parar definitivamente. É preferível não ter Copa do Mundo e ter ciência e tecnologia – ressalta o engenheiro.