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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cidade

Surfe, pesca, futevôlei e dança na noite do Arpoador

Ligia Lopes - Do Portal

24/02/2012

 Jefferson Barcellos

Longe do calor do sol, mas sob a luz dos holofotes, a praia do Arpoador tornou-se um point para quem prefere praticar atividades físicas à noite. Por volta das 20h, quando o crepúsculo doura o mar e barracas e cadeiras são guardadas por quem passou o dia cultivando o bronzeado, surfistas, jogadores de futevôlei e outros esportistas imprimem cores noturnas ao verão carioca. Buscam brisa e tranquilidade. É assim que a estudante Andreza Ramos, de 18 anos, acostumou-se a aproveitar o fim do dia. Moradora de São Cristóvão, aprendeu a surfar ainda pequena e há dois anos mantém a rotina das manobras ao entardecer.

 Jefferson Barcellos – Como eu faço estágio de manhã, prefiro vir surfar no fim da tarde. Às vezes aproveito uma carona do meu pai, que trabalha aqui por perto, ou venho de ônibus. A parte ruim de surfar à noite é a visibilidade, mas isso é compensado pela ausência de banhistas – compara.

O surfe noturno também é uma opção para quem não pode pegar sol, como Raquel de Souza Martins (à direita), de 24 anos. Ela se cortou há duas semanas na quilha da prancha, enquanto surfava na praia do Diabo, e o médico só liberou o surfe à noite, para manter o local em que levou os pontos livre da exposição solar.

– A principal diferença entre surfar de dia e à noite é o que chamamos de crowd, que significa um número muito grande de pessoas na água, situação típica no dia a dia durante o verão. Como à noite o número de banhistas é muito menor, o risco de acidentes também diminui – pondera. – O pessoal que vem surfar fica aqui até de madrugada. Eu prefiro surfar à noite também porque o mar fica muito melhor no fim do dia. A cabine de polícia e a iluminação do holofote passam muita segurança – completa Raquel.

 Jefferson Barcellos O mar noturno também é pródigo para a pesca, atividade que lota as pedras do Arpoador. Felipe Alves, de 48 anos, pesca desde os 14. Tornou-se mais um devoto daquele cantinho imortalizado pelos poetas:

– Aprendi a pescar no Posto 6 e depois comecei a ir para a ponte. Hoje fico aqui nas pedras, perto do pessoal mais maduro, porque não tem o desgaste emocional de quando cruza uma linha com a outra – justifica. – Pescar é muito prazeroso, você fica satisfeito mesmo se não pegar nada.

A calçada que divide as praias do Arpoador e do Diabo abre espaço para a arte urbana. O grupo IQ Fenix Crew atrai cariocas e turistas com os passos do break dance. Muitos fotografam os jovens Ramon Pereira, de 20 anos, Pedro Ítalo, 18, e Bruno Dias, 23, que dançam há quatro anos. Eles treinam no Morro do Cantagalo, onde moram, e vão para o Arpoador mostrar o que aprenderam.

– A IQ Fenix seleciona os b. boys (dançarinos de break) considerados melhores e, a partir daí, fazemos campeonatos e eventos de break. Já me machuquei várias vezes, mas nada grave. Na maioria das vezes, foram queimaduras por causa do chão quente ou do tapete – conta Ramon. Jefferson Barcellos

O futevôlei, esporte nascido nas areias cariocas, também faz a festa no Arpoador. Boa parte dos praticantes entrou para turno da noite por necessidade. Como o grupo formado por Renato Gomes, de 40 anos, Jorge Nolasco, 21, Pedro Paulo Cezario, 30, e Michel Ramos, 26. Há mais de dez anos eles fazem o happy hour na praia do Diabo, depois do trabalho.

 Jefferson Barcellos – Todos os dias chegamos por volta das 17h30 e ficamos até umas 22h. Jogamos à noite porque trabalhamos durante o dia. Esse lugar já é nosso – brinca Renato.

Os prazeres da praia noturna encantam também gente de fora, visitantes em férias e cariocas de coração. O paulistano radicado no Rio Renato Reston, de 41 anos, aproveita o visual das estrelas para correr na orla três vezes por semana. O treino de 50 minutos passa mais rápido:

 Jefferson Barcellos – É bom estar no meio da natureza. Prefiro correr à noite porque, além de ser mais fresco, à tarde corro o risco de ser atropelado por bicicletas ou skates, como já aconteceu três vezes.

A segurança, preocupação natural dos notívagos do calçadão, é reforçada pelo patrulhamento 24 horas. Um PM de uma cabine na área, que preferiu não se identificar, afirma que os assaltos escassearam, "porque não tem para onde fugir". Além do mais, acrescenta o policial, o "Arpoador é muito movimentado, o pessoal estende a noite e fica até de manhã malhando, surfando, namorando no banquinho".

 Jefferson Barcellos Melhor para os comerciantes, que comemoram o aumento das vendas nessa época. Segundo Anderson dos Santos, atendente do quiosque Nicolas, na entrada do Arpoador, o salto comercial é impulsionado, em grande parte, pelo crescimento da quantidade de visitantes:

– Há 20 anos que o nosso quiosque não fecha. Quando faz calor, as vendas aumentam muito, e 60% dos fregueses são turistas. O pessoal que passa por aqui é muito saudável, quer tudo light, de forno – observa.

Confira a galeria de fotos Noite no Arpoador.