Quatro anos após a estreia de Jogo de cena, longa-metragem de Eduardo Coutinho que explora a relação entre ficção e realidade intercalando depoimentos reais com a interpretação de atrizes como Marília Pêra e Fernanda Torres, estreia o novo filme do diretor. A partir desta sexta-feira (9), o público poderá assistir ao documentário considerado o melhor do Festival do Rio, que traz a marca autoral do diretor.

Composto por 18 histórias reais de pessoas reais, o filme não conta história alguma. Não fosse um filme de Coutinho, a frase poderia ser pejorativa. Conhecido por eleger o comportamento humano como objeto de estudo em seus trabalhos, o diretor contagia com sua curiosidade pelos personagens, sem esforço aparente. Ao colocar-se na posição de ator, segundo disse à Revista Bravo! deste mês, Coutinho cativa a confiança dos entrevistados e consegue depoimentos verdadeiros, genuínos, capazes de emocionar nas entrelinhas: quando se dá conta, o público está rindo ou chorando, embalado pelas músicas à capela.

Além da referência a Edifício Master, com a emocionada e emocionante cena de um senhor, morador do prédio de Copacabana, cantando My way, as semelhanças com Jogo de cena não são poucas, a começar pela escolha dos entrevistados. No filme de 2007, um anúncio publicado em jornal convidava as pessoas a participar; neste, os dizeres “Se você tem uma música que mudou sua vida, cante e conte sua história” chamaram a atenção das quase 250 pessoas que responderam à convocação.

Com uma produção que durou pouco mais de quatro meses entre as pesquisas iniciais e a finalização, As canções remete a Jogo de cena também no cenário. A câmera gira 180 graus no próprio eixo, e a cortina escura é o principal elemento cênico, privilegiando o olhar observador do diretor, como na maioria de seus filmes.