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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Campus

Histórias de um ex-combatente temperam a hora do almoço

Maria Eduarda Parahyba - Do Portal

18/04/2008

 Maria Eduarda Parahyba

“Eu vi aqueles pracinhas voltando com suas boinas azuis para as famílias, todo mundo fazendo festa, e decidi que queria ser igual a eles”. Foi assim que Edson Dantas resolveu que queria servir no Batalhão Suez (BS), uma unidade das Forças Emergenciais da Organização das Nações Unidas (ONU). De olho no BS, entrou para o Exército e, em 1965, alistou-se numa missão de paz na Faixa de Gaza. As histórias no Oriente Médio e outros casos do ex-combatente apimentam a rotina entre talheres e pratos. Aos 63 anos, o auxiliar de cozinha do restaurante Couve-Flor, na PUC-Rio, faz das lembranças um tempero irresistível.

- Minha função em Gaza era vigiar a fronteira, de uma torre de sete metros.  Não houve conflito, mas o risco era constante. Apesar da rotina cansativa e arriscada, a convivência com os outros soldados era tranqüila. Aos domingos, íamos a bares escutar música.

Música em Gaza. A lembrança do impossível é uma deixa para Edson dar uma canja de "Zigue-Zague", sucesso de Jair Rodrigues. Na voz de Edson, a canção virava peça diplomática: embalava a confraternização com oficiais de outros países.

Nas missões do Batalhão de Suez, conheceu lugares como Alexandria, Mar Vermelho, Ruínas de Jericó. Em Jerusalém, entoou a "Ave Maria" para 40 monges franciscanos.

O eclético ex-combatente também é fotógrafo. Aproveita o hobby para ganhar um dinheiro extra, em formaturas, casamentos, festas de debutantes. Eterno romântico, dispensa tecnologias digitais e prefere fotos em preto e branco. 

Ele ainda recita poesias e mantém o gogó em dia com um repertório variado. Vai de Ave Maria a Frank Sinatra, passando por Roberto Carlos, Elvis e Carlos Alberto, o rei do bolero. O difícil é fazê-lo parar de cantar - pela admiração de quem ouve e pela empolgação de quem tem a música no sangue. É bom ouvir aquele vozeirão de Vicente Celestino.

Depois de 12 anos na fábrica da Chevrolet, o soldado, cantor, operário, poeta e fotógrafo veio trabalhar no Couve-Flor da PUC-Rio. Tecnicamente, sua função é a reposição dos pratos e dos talheres. Na prática, empresta a alma de poeta para dar mais sabor à hora do almoço. “O restaurante é como um teatro”, compara. Para Edson, a vida é um teatro. Para os aniversariantes, ele escreve mensagens, uma espécie de perfil psicológico.

- Escrevo pouquinho mas eles gostam - conta. - Eles (os estudantes) são a minha inspiração.