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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Livro usa o cinema para explicar os transtornos mentais

Caroline Hülle - Do Portal

30/11/2011

 Arte: Jefferson Barcellos

Um mergulho na psiquiatria sob os olhares da sétima arte. Desta combinação nasceu o livro "Cinema e Loucura – Conhecendo os transtornos mentais através dos filmes" (Editora Artmed, 288 páginas, R$ 83), de J. Landeira-Fernandez, professor da PUC-Rio e diretor do Núcleo de Neuropscicologia Clinica e Experimental (NNCE), associado à universidade; e Elie Cheniaux, professor da UERJ e UFRJ. Com o auxilio de 184 filmes, a obra – indicada à categoria Ciência e Saúde do Prêmio Jabuti 2011 – esclarece os 14 transtornos mentais relacionados no "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais de 2000" ("DSM IV"), referência entre os profissionais de saúde mental que explica e classifica os critérios de diagnósticos e perturbações psíquicas. Para Landeira, o cinema é um ótimo aliado aos estudos teóricos, pois ilustra os "conceitos clínicos complexos".

O livro também descontrói erros conceituais observados em boa parte dos filmes. Em "Uma mente brilhante", por exemplo, o matemático John Nash (Russel Crowe), protagonista da trama, tem alucinações visuais, auditivas e táteis. O autor explica, entretanto, que tais sintomas raramente aparecem ao mesmo tempo em esquizofrênicos.

– Usamos os filmes como ferramenta acadêmica, para explicar conceitos reais da clínica geralmente abordados com erros – observa – Mas incorreções revelam-se didáticas. Mostramos o que está errado e apresentamos os conceitos corretos – completa Landeira.

A seleção variada de filmes reúne títulos como o clássico "Psicose" (1960), de Alfred Hitchcock; a comédia romântica "Como se fosse a primeira vez" (2004), de Peter Segal; e a animação “Procurando Nemo” (2003), de Andrew Stanton. Filmes brasileiros como "Bicho de sete cabeças" (2000), de Laís Botanzky, estrelado por Rodrigo Santoro; e "Capitu" (1968), de Paulo Cesar Saraceni, reforçam a lista. Tal diversidade, associada à linguagem simples, torna o livro acessível tanto a iniciantes em psiquiatria quanto a cinéfilos. Todas as obras são analisadas com o objetivo de mostrar as coerências e incoerências dos sintomas sofridos e dos diagnósticos dos personagens.

Na difícil missão de encontrar filmes que ilustrassem todos os transtornos daquele manual, Landeira e Cheniaux pesquisaram em livros e na internet, e tiveram ajuda de colegas de profissão e dos alunos da disciplina “Psicopatologia e Cinema”, da PUC-Rio, de onde surgiu a ideia do livro, há 4 anos, depois de incontáveis análises feitas em sala.

 – Mesmo com tantas fontes, não encontramos filmes que ilustrassem aproximadamente 10% dos transtornos – conta Landeira.

Os especialistas atualizarão o livro após o lançamento do "DSM V", em maio de 2013. Antes da produção do segundo volume, os autores usam a internet como espaço de interação com o leitor. Eles divulgaram no livro um email (cinemaeloucura@gmail.com) para receber criticas e sugestões de filmes. A comunicação com o público também contribui para uma melhor reflexão sobre os transtornos dos personagens, pois, ainda segundo Landeira, mesmo com o auxílio do manual "DSM IV", “há muita divergência a respeito da formulação de diagnósticos”.

Os aproximadamente 200 longas assistidos pelos especialistas, em 24 meses, modificaram a relação dos autores com o cinema. O processo, a princípio agradável, “virou trabalho”. Para Landeira, eles estão “traumatizados” (no sentido comum), e os dois anos até a atualização do livro servirão para recuperar o fôlego antes de mergulhar de novo no mundo cinematográfico.

– Estamos em fase de recuperação desse esforço. Mas na revisão do livro vamos agregar mais filmes – anima-se Landeira.