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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

Sergio Mota reencontra Carlos Drummond de Andrade

Monalisa Marques - Do Portal

18/11/2011

 Monalisa Marques

Inspirado pelas conversas com Carlos Drummond de Andrade durante a adolescência e pelo presente de um amigo, Sergio Mota criou um espetáculo inteiramente baseado nos textos do poeta. Na época da primeira apresentação, ainda durante sua graduação em Letras pela Uerj, ele não poderia imaginar que faria o monólogo novamente, 13 anos depois. Conhecido pelo Projeto Intervenções, no qual propõe aos seus alunos de Comunicação e Literatura – disciplina que leciona no Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio desde 1999 – que realizem intervenções artísticas pelo campus da universidade e arredores, Sergio deixará de lado seu cargo de professor para dar corpo e voz ao personagem de Carlos Drummond de Verdade, em apresentação única neste domingo (20), no Midrash Centro Cultural, no Leblon.

Num misto de animação, ansiedade e preocupação, sentimentos típicos de coxia, o ator e professor lembra a época em que literalmente seguia o poeta, admirado, pelas ruas de Copacabana. E conta, cheio de orgulho: “Sim, eu conversei com Drummond”. 

– Uma vez eu o entrevistei, por telefone, para uma matéria do jornalzinho da escola. Depois disso liguei para ele algumas vezes para conversar. Mais do que isso, eu seguia o Drummond. Ficava de longe, mas não tinha coragem de chegar perto dele e dizer “Oi, Drummond, eu sou aquele Sergio que liga para o senhor...”. Mas, no telefone, eu me soltava, falava horrores. Na época eu me dedicava mais à poesia, e ele me incentivava – conta, com um sorriso no rosto e a preocupação de enfatizar que não era seguidor do poeta por tendências à psicopatia, mas por pura admiração. 

Sergio se destaca na universidade aos olhos dos alunos. Dos óculos aos tênis que usa, transpira arte. Em sua mesa, o Macbook Air não chama mais atenção que as imagens do fundo de tela, sempre artísticas e impactantes. E, embora sua disciplina seja Comunicação e Literatura, filmes e espetáculos de dança são constantes em suas aulas, onde até cartões-postais tornam-se objeto de estudo. 

– Ser professor é estar atento o tempo inteiro e não se deixar acomodar. É como ser ator: assim como a peça, a aula é passageira. Ambas são artesanais, apesar da tecnologia, e é preciso estar vivo em cena para não falhar e cativar a atenção da plateia e dos alunos, que sempre são diferentes. Isso é extremamente incentivador. Ambas são frustrantes porque são feitas por momentos únicos. Quando dou uma aula que sinto que foi excepcional, por exemplo, saio com a mesma sensação que sentia quando terminava uma peça: frustrado porque acabou e o momento nunca vai voltar. 

Sua postura em sala de aula, como ele mesmo diz, tem muito a ver com a dinâmica teatral. Durante seus 12 anos como professor, talvez seja difícil ter havido uma turma na qual nenhum aluno tenha comentado suas expressões, gestos e escolha de palavras – entre elas, a mais famosa é “obnubilado”, usada desde em reflexões sobre a cidade até em discussões sobre a cegueira branca de José Saramago.

 Reprodução A carreira de Sergio como ator durou apenas três peças teatrais. Como ele mesmo define, é um ator bissexto, sabático e cabalístico: se apresenta de vez em quando, quando dá vontade. Quando assiste a uma peça ou filme muito interessante ou vê em cena um ator muito bom, a vontade de voltar a atuar reacende, e ele dá um jeito.

– Encaro isso como um exercício. Não tenho mais a dinâmica da profissão de ator, mas faço por amor à obra. Os textos são tão interessantes, tão tocantes em determinadas situações de vida, que eu acho que vale muito a pena. O Drummond não é meu livro de cabeceira, ele dorme comigo na cama – diz o professor, que, amante das frases de efeito, usa constantemente sua tendência ao humor para atualizar seu status do Facebook dizendo que “está em relacionamento sério” com a personalidade que admira no momento. Nessa brincadeira, já revelou seu arrebatamento pela peça Estamira, pela obra de Caetano Veloso e por sua participação no programa Estúdio i, do canal GloboNews.

Esta é a quarta vez que Sergio encena seu monólogo, que se modifica a cada apresentação. Neste domingo, Sergio encenará a peça pela primeira vez sob a supervisão de um diretor. Joice Niskier assina a direção de Carlos Drummond de Verdade, que virá acompanhada de música ao vivo.

– É praticamente outro espetáculo. Está mais simples e menos físico, tem menos movimentação, além do piano em cena, que vai pontuando e costurando tudo. O roteiro é meu, mas a direção entrou com o papel de limpar tudo. Meu personagem é um leitor de Drummond, e, por mais que sejam poemas dele, a peça foge do tom de recital. Não é uma declamação, mas uma conversa com o espectador.

 

Carlos Drummond de Verdade
Domingo, 20 de novembro, às 19h, no Midrash Centro Cultural (Rua General Venâncio Flores, 184, Leblon)
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia entrada). Recomenda-se chegar com antecedência.