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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Cultura

Conspiração leva a história para a televisão

Mariana Alvim - Do Portal

23/11/2011

 Ligia Lopes

Aclamada como um feliz casamento entre o audiovisual e a história, a série Histórias do Brasil, dirigida por Arthur Fontes, chegou à PUC-Rio. No último dia 9, dois dos dez episódios produzidos pela Conspiração Filmes foram exibidos na universidade. Fontes e Luciano Figueiredo, diretor da Revista de História da Biblioteca Nacional, estiveram no campus para conversar sobre a produção. A equipe da Revista de História prestou consultoria para o projeto, que foi financiado pelo Instituto Claro.

A série foi filmada em 2010 e exibida na TV Brasil a partir do dia 5 de setembro. Ela narra momentos históricos do país que vão desde os momentos iniciais da colonização, no século XVI, até a construção de Brasília, no último século. Na PUC, foram exibidos os episódios Escravos no engenho e O sonho de Juscelino. Entre as duas exibições, ocorreu uma mesa-redonda, que contou também com a participação dos professores Maria Eliza de Sá Mader, do Departamento de História, e Angeluccia Bernardes Habert, Arthur Ituassu e Daniel Mesquita.

Segundo o diretor da série, Histórias do Brasil atende a um antigo desejo da Conspiração em produzir programas para a televisão. A ideia era seguir a linha dos programas realizados pela emissora britânica BBC, como conta Fontes:

 Ligia Lopes – Queríamos um programa agradável de assistir, mas com o qual as pessoas também pudessem aprender. Não queríamos reis ou coisas clichês, como Dom João comendo coxinha. Queríamos saber a história das pessoas médias e não dos personagens mais célebres. Além disso, buscávamos um modelo híbrido: não só ficção, nem só documentário.

A parceria com a Revista de História foi fruto do desejo da produção em ter um bom embasamento teórico. E esta preocupação levou os próprios cineastas ao estudo, como conta Luciano Figueiredo:

– Temos que reconhecer a competência do roteiro. Eles estudaram muito e isso facilitou bastante nosso trabalho. O Renato (Fagundes, roteirista da série) sabia tudo, parecia um colega nosso – disse Figueiredo, para quem os cineastas foram bastante flexíveis nas contestações feitas pelos historiadores, que buscaram verosimilhança nas cenas e fidelidade aos fatos.  Ligia Lopes

De acordo com ele, apesar da harmonia encontrada entre os historiadores e os cineastas, há diferenças entre as áreas, sobretudo na linguagem e na busca pela fidelidade dos fatos – que na sétima arte, esbarra na criatividade. Mas para ele, o momento em que os historiadores descobrirem como trabalhar com o meio audiovisual será muito produtivo para a expansão do conhecimento. Segundo Daniel Mesquita, o encontro das duas áreas é positivo:

– O audiovisual e a história se somam, uma completa a outra. Na diversidade que temos hoje em dia, o importante é saber selecionar. A história não é monopólio do historiador. Hoje, pessoas que não são historiadoras fazem pesquisas sérias, como Laurentino Gomes, hoje em primeiro lugar no ranking dos livros mais vendidos – lembra Mesquita,para quem um dos méritos da série é oferecer um retrato do cotidiano da época, o que é tendência no meio acadêmico, que vem valorizando estudos intimistas como o de Gilberto Freyre em Casa-grande & senzala.

A professora Angeluccia Bernardes, que promoveu o encontro, acrescenta:

– O cinema e a fotografia foram os elementos que criaram as noções e mentalidades que hoje
vemos representados na historiografia moderna. Essas artes entram no particular e o tornam ambíguo, de forma a se universalizar.

Para a professora Maria Eliza, um ponto positivo da série é a presença de historiadores atuantes na área acadêmica. Para ela, a historiagrafia do programa é atualizada. Mary Del Priori, Jorge Couto, Eduardo Viveiros de Castro, Alberto da Costa e Silva, John Monteiro, Evaldo Cabral de Mello, Santuza Cambraia estão entre os nomes que depõem na série.

Na opinião do professor Arthur Ituassu, a fidelidade à historia deve ser mais valorizadas na produção para a televisão.   

 Ligia Lopes – Muitos produtos midiáticos não têm nenhum compromisso com a história, são mal-feitas, mal-cuidadas. É importante pensar por que isso acontece. Nos Estados Unidos, as produções de história para a televisão são enormes!

No caso de Histórias do Brasil, Arthur Fontes garante que a produção foi grande.

– Fomos ambiciosos em fazer dez episódios. Tivemos que procurar dez elencos, fazer dez pesquisas de arte, de figurino e etc. Vejo hoje os dez episódios e fico com preguiça. Como conseguimos fazer coisas tão grandes?

Dentre os dez episódios, Luciano Figueiredo aponta suas preferências: Leituras perigosas, sobre a inconfidência à Coroa portuguesa no Rio de Janeiro, e O sangrador e o doutor, sobre um ex-escravo curandeiro. Todos os episódios podem ser vistos no site do Instituto Claro.