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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cidade

Protesto contra divisão de royalties reúne 150 mil no Rio

Caio Lima * - Do Portal

11/11/2011

 Monalisa Marques

A passeata Contra a Injustiça – Em Defesa do Rio, realizada nesta quinta-feira, 10, no Centro da cidade, mostrou o engajamento de 150 mil pessoas contra a partilha dos royalties do petróleo entre os estados brasileiros, mas também revelou que muitos conhecem o imbróglio apenas superficialmente, levando mais em consideração a perda de R$ 48,8 bilhões, até 2020, aos cofres do estado do Rio, do que o lado constitucional da situação. A manifestação foi marcada pela adesão de diferentes setores da sociedade, entre sindicalistas, estudantes, movimentos sociais e diversos trabalhadores do centro, muitos deles engravatados, que aproveitaram o ponto facultativo para protestar com a multidão.

Um desses grupos de engravatados era dos Procuradores do Estado do Rio de Janeiro, que mostravam uma faixa com os dizeres “Contra a Covardia” e “Unidos na Luta pelos Royalties” e serão os responsáveis por defender os direitos do estado, caso o Projeto de Lei venha a ser aprovado.

 Monalisa Marques – A ação de Ato de Inconstitucionalidade para lutar contra a lei no Supremo Tribunal Federal já está pronta. Estamos diretamente envolvidos nessa briga, daí a nossa presença nesse calor, de terno, na manifestação – destacou o procurador e chefe da assessoria jurídica da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços (Sedeis), Anderson Schreiber.

Ao comentar sobre a passeata e o envolvimento da população, Schreiber afirmou que a iniciativa é importante para chamar a atenção de todos os brasileiros, para esse “flagrante inconstitucional”, mas reconhece que muitas pessoas não entendem a polêmica.

 – O problema é muito técnico, a maior parte das pessoas nem sabe o que são royalties. No entanto, acho que já está havendo uma conscientização, de fato. Mas o processo tem que continuar, não podemos ficar só nas passeatas – afirmou o procurador.

A estudante carioca Maria Eduarda Maezano, de 13 anos, hoje moradora de Itaipuaçu, distrito de Macaé, obrigou seu pai, o guia turístico Fernando Maezano, de 47, a trazê-la ao Rio para participar da passeata. Eles vieram por conta própria, de carro, até Niterói, e atravessaram a barca, aproveitando a gratuidade dos meios de transporte:

– Vi o anúncio pela TV e não tive dúvida de que queria participar. Acho importante lutar pelo que é nosso. Se o petróleo é daqui, por que os recursos não? – questionava Maria Eduarda.  Monalisa Marques

Para seu pai, paulistano, o Rio está sendo altamente injustiçado, mas ele acredita que com a manifestação dos estados produtores de petróleo haverá uma voz importante em Brasília.

Também era possível encontrar pessoas que não são totalmente contra a partilha dos royalties. É o caso do pastor Sérgio Pina, 70 anos.

– É justo dar um pouco de recurso aos estados, também são Brasil. Mas, em função do direito do povo fluminense, é o governo do estado que deve decidir o percentual que será repassado – afirmou o pastor.

 Monalisa Marques Pina, que também participou do movimento Diretas Já na Cinelândia, comparou as duas manifestações e não acredita em falta de ideologia aos jovens de hoje. Para ele, “a situação é que determina a força de um protesto”:

– No caso das Diretas Já, a manifestação era do povo brasileiro; agora, a questão pertence apenas ao Rio de Janeiro.

A pluralidade das pessoas que aderiram ao movimento ficou clara no protesto dos servidores públicos da Fundação Estadual Santa Cabrini. Para Paulo Monteiro, de 45 anos, é preciso a população se informar mais para poder se engajar de vez no protesto, mas, segundo ele, depende do interesse de cada cidadão.

– É até burrice você não se atentar para essa quebra de um pacto federativo, pois, caso venha a ser aprovada essa lei, o prejuízo será em todos os setores, inclusive os privatizados – criticou o servidor público.

Um colega dele, que não quis se identificar, afirmou ser totalmente contra o projeto de lei, mas confessou que não sabe o que são royalties.

 Monalisa Marques “Prova de maturidade e união”

Após a aparição no palco com outros políticos e celebridades, o governador do Rio, Sergio Cabral, deu entrevista coletiva e afirmou que a população deu prova de maturidade e união e exigiu respeito aos contratos já estabelecidos:

– Como podemos ceder se já é algo licitado? O Rio sentou à mesa e sentará quando for necessário para discutir o que pode ser licitado, mas não vamos aceitar esse ato inconstitucional.

Cabral explicou que não fez discurso porque o intuito era deixar a sociedade se expressar, e disse acreditar que a manifestação sensibiliza as pessoas. O governador afirmou ter certeza que, caso aprovada, a presidente Dilma Roussef, vetará.

Protesto em cima de protesto

Manifestantes do movimento Ocupa Rio, que desde 15 de outubro estão acampados cerca de 100 metros de onde estava montado o palco de shows, aproveitaram a presença dos políticos para protestar. Aos gritos de “Não nos representam”, eles não hesitaram em vaiar quando todos os políticos subiram ao palco para saudar os presentes.

* Com a colaboração de Monalisa Marques.