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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Em época de Ipod, vinil é a grande novidade

Monalisa Marques - Do Portal

16/11/2011

Colecionar discos de vinil, fotografar com filme e ir às compras em brechós são práticas que, impulsionadas pela nostalgia, vêm crescendo nos últimos anos. Acompanhando a tendência, o Casa Cor Rio 2011, que termina nesta semana, apoiou-se no contraste do antigo com o moderno e deu aos arquitetos, decoradores e paisagistas convidados a tarefa de repensar o Palacete Linneo de Paula Machado, em Botafogo, sem descartar suas características históricas.

Em meio ao estilo renascentista da propriedade há projetos de vanguarda como a Sala de Música, assinada pelas arquitetas Lia Lamego e Monica Camargo. O toca-discos alemão, peça que mais se destaca no ambiente, tem design inovador e traduz o desejo das sócias de fugir do uso de computadores e telas de TV:

– Antes de escolhermos o toca-discos, conversamos muito com o dono da loja. Aprendemos sobre a pureza do som, a qualidade das caixas, e que existe um público grande para esse tipo de som – conta Monica.

O mais recente estudo da Nielsen, instituição americana que monitora a indústria fonográfica no mundo, confirma essa tendência. Embora os vinis não representem nem 2% das vendas de discos, monopolizadas pelos CDs, seu consumo foi o que mais cresceu, correspondendo nos Estados Unidos a um aumento de 41% em relação ao mesmo período de 2010. O crescimento mundial das vendas motivou, em 2009, a reabertura da Polysom do Brasil, hoje a única fábrica de vinis da América Latina.

– O MP3 dissolveu muito a indústria fonográfica. Hoje, o vinil é a grande novidade, e acredita-se que ele reinará mais uma vez em breve. Em meio à tecnologia touch, onde tudo é cada vez menos palpável, ter em casa algo que nos transmita história nos faz sentir com raízes. Aí está o charme do retrô, em todo o aconchego que o passado nos traz – diz Monica.

VINTAGE X RETRÔ

Vintage:
Pertence às décadas de 20 a 80 e foi moda na sua época

Retrô:
É novo, mas inspirado em modas anteriores

Assim, desprezando as previsões apocalípticas a respeito da sobrevivência dos meios físicos, o download de músicas não influencia a venda de vinis. Isto porque os motivos que levam à compra dos discos vão além do apreço pela música. Hoje em dia, quem compra vinis o faz por hobby de colecionador, fenômeno que é tema de estudos.

"O vinil é a única mídia que apresentou crescimento depois de ter atingido seu pico de vendas. Isto porque é insubstituível", afirma o pesquisador João Pedro dos Santos Fleck, da UFRS, em O colecionador de vinil: um estudo videoetnográfico, seu trabalho de pós-graduação em Administração, para o qual analisou o comportamento de colecionadores e vendedores de discos, a partir de entrevistas. Segundo ele, os consumidores são influenciados por uma falsa nostalgia de uma época em que não viveram, e de coisas que não conheceram.

O DJ Tuta é um exemplo deste fenômeno. Tem uma coleção pessoal de mais de 5 mil discos, que ultrapassa os 17 mil quando somada às dos outros DJs do Vinil É Arte, coletivo de pesquisa musical presente no Rio, em Minas e São Paulo. O acervo foi garimpado ao longo dos 10 anos de existência do grupo, que se prepara para a festa de aniversário marcada para o dia 3 de dezembro, no Espaço Cultural Gabinete, na Lapa carioca. Quando não é pela ajuda dos amigos que lhe oferecem seus acervos próprios, Tuta transita entre os sebos e os típicos ambulantes que vendem discos pelas calçadas da cidade, e não esconde seu entusiasmo e paixão pelo que faz.

– Sempre tenho um disco de cabeceira, mas eles vão dando lugar a outros que vão chegando à minha coleção. Hoje, o meu preferido é Show Opinião, da Nara Leão, com o João do Vale e o Zé Keti. É lindo! É de 1965, de uma peça que o Augusto Boal dirigiu, e tem versos do Cartola e do Heitor dos Prazeres – conta o DJ, que já pagou R$ 300 por um disco, mas já comprou outro por menos que um picolé.

 Capa do disco A originalidade do som pode ser a primeira justificativa dos colecionadores, mas o entusiasmo não demora a aparecer nos depoimentos, que geralmente destacam o apelo da arte de capa:

– Eu sempre dou o exemplo de Milagre dos peixes, do Milton Nascimento. Você vai abrindo a capa e ela vira um pôster do Milton bem molequinho. E ainda tem o encarte, todo colorido, com as letras datilografadas. Você passa a mão pela capa e sente a textura – diz Tuta.

Desde abril deste ano, os colecionadores podem contar com uma força da tecnologia para adquirir novos discos. A Loja de Discos, site criado por três amigos, promete agilizar o contato entre colecionadores e compradores. Atualmente, já conta com quase 3.500 álbuns cadastrados por 120 vendedores.

– Nós também somos colecionadores, e criamos o site justamente pela nossa necessidade de encontrar discos. Queríamos tornar as buscas mais fáceis, sem a necessidade de gastar sola de sapato. Um disco de vinil pode ser menos prático, já que precisa ser virado, mas isso faz parte do ar romântico – conta Fernanda Alteff, sócia de Vinicius Aguiari e Rodrigo Bueno no site.