Quem conhece o pilotis da Ala Kennedy, sede do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, sabe que se trata de um espaço social segmentado. Em 1998, quando Los Hermanos ainda era uma promissora banda universitária, os integrantes reuniam-se em frente à escada principal do edifício, próximo ao Fast Way. Do outro lado do térreo, perto do busto do ex-presidente americano, sentava-se Anna Júlia Werneck, 19 anos, aluna de Jornalismo e paixão de Alex Werner, produtor do grupo.
Da dificuldade de Alex em se aproximar de sua musa, Marcelo Camelo, líder e vocalista do Los Hermanos, empolgado com a sonoridade do nome, escreveu o que viria a ser o maior sucesso da banda. Em 1999, o grupo assinou contrato com a Abril Music, obrigando Anna Júlia a superar sua timidez para promover o single.
O curioso, conta Anna Júlia, é que ela só foi saber de certos detalhes através das matérias que saíam na mídia. “Como o Alex não conversava comigo, e eu também era muito tímida, só fomos discutir nossa relação por entrevista. Eu só fui descobrir na primeira entrevista que quem tinha feito a música tinha sido o Camelo, e não o Alex”, revela.
Nos anos seguintes, o sucesso inesperado da faixa do primeiro disco do Los Hermanos causou um misto de entusiasmo e preocupação em Anna Júlia. No começo, ela se divertia com o fato de que uma música em sua homenagem estava tocando nas rádios. Quando a coisa tomou proporções maiores, no entanto, se apavorou.
– Eu não conseguia andar na PUC sem ser apontada. Sem falar que toda aula tinha que contar a história. Era péssimo porque eu não me achava isso tudo e as pessoas vinham com muito julgamento. O problema é cada um esperava uma coisa diferente. E aí, quando finalmente me viam, me achavam sem graça. Era frustrante não ser a “Anna Júlia” que as pessoas gostariam que eu fosse – comenta.
As primeiras aparições na mídia, como a reportagem do jornal O Dia, na qual ganhou mais destaque do que a banda, eram motivo de vergonha e inquietação. A partir de então, Anna Júlia pediu para que Alex só a chamasse em ocasiões especiais. Uma delas foi a entrega do disco de ouro ao grupo no Domingão do Faustão, em 2004. A participação no Fantástico, gravada no Jardim Botânico, bairro onde mora há mais de 15 anos, também foi marcante. No programa, Anna Júlia aparece assistindo ao vídeo da versão do falecido roqueiro inglês Jim Capaldi. O cover, que conta com uma canja do também falecido George Harrison na guitarra, emocionou a mãe de Anna Júlia, fã dos Beatles.
Foi por insistência da mãe que Anna Júlia se matriculou ao lado da irmã no programa de intercâmbio cultural do Children’s International Summer Villages (CISV). Dos 11 aos 21 anos, viajou o mundo inteiro, chegando a ser coordenadora de alguns acampamentos. Em 1996, visitou a Mongólia, onde conheceu o presidente e dividiu o palco com a maior cantora pop do país.
Apesar de nunca ter recebido nenhum retorno material – a não ser “uma passagem para Salvador e uma ótima desculpa para quebrar o gelo em situações profissionais” – ser a “Anna Júlia” já rendeu episódios cômicos. Segundo a amiga Mariana Abreu, 28 anos, produtora da TVE, um deles aconteceu quando ela era funcionária da emissora.
– Um garoto, que tinha acabado de entrar na TV, para impressionar as menininhas fãs de Los Hermanos, inventou que era primo do Barba e que tinha ficado com a Anna Júlia. Mal desconfiava ele que a personagem era real e que trabalhava ao lado. Quando soube, foi chacota total. A gente brincava: “olha aí, Anna Júlia, seu peguete”. – conta, às gargalhadas.
Outros casos Anna Júlia lembra com menos carinho. Há cerca de dois anos, a coluna Gente Boa, no jornal O Globo, noticiou que ela se casaria com o namorado Patrick Laplan. A notícia, falsa, foi divulgada por outros veículos, que não se preocuparam em checar as fontes. “Até as 10h eu ria das ligações que recebia. Depois disso comecei a pedir desculpas porque as pessoas ligavam emocionadas para parabenizar ou para brigar por eu não ter avisado do casamento”, diz.
Patrick, fundador e ex-integrante do Los Hermanos e atual baixista do Biquíni Cavadão, namora Anna Júlia há seis anos. Os dois se conheceram na PUC, mas só começaram a sair muito depois dele ter deixado o grupo de maneira “nada amigável”, na época do lançamento do segundo álbum. “Eles me tiraram da banda sem dizer exatamente o que tinha acontecido. Acho que foi conflito de interesses. Fizeram insinuações, mas ninguém foi macho para assumir que tinha tomado a decisão”, dispara.
Em função do namoro com Patrick, Anna Júlia passou a ter um gosto musical mais eclético. Ela confessa que só tem os dois primeiros CDs do Los Hermanos e que suas faixas prediletas são Anna Júlia e O vencedor, na qual trabalhou no videoclipe como produtora, por acaso. Ironicamente essa foi a época em que mais conversou com Alex, por motivos profissionais. “Hoje em dia falo com ele só pelo MSN, e tenho pouco contato com o resto do grupo. Acabou que foi cada um para um canto”, avalia.