Projeto Comunicar
PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 17 de maio de 2024


Campus

‘Sou bem adaptado ao mundo em que vivo’, diz futuro jornalista

Fabiano Ristow - Da sala de aula

18/04/2008

 Thiago Castanho

O estudante Lucas Maia, de 22 anos, atrai centenas de olhares quando anda pelos corredores da PUC-Rio, onde cursa o sexto período de Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo. O alvo das atenções é a cadela Annie, uma mistura de labrador com poodle, que acompanha o jovem entre uma aula e outra. Com seus pêlos caramelos arrepiados, o cão-guia ajuda o dono, cego de nascença, a chegar onde quiser, obedecendo a comandos em inglês – o animal foi importado de uma instituição nos Estados Unidos chamada “Guide Dog Foundation”, que cria cães treinados para guiar cegos.

Muita gente pode se perguntar por que Lucas, que estagia no Projeto Comunicar, na universidade, decidiu enveredar pelo jornalismo, profissão que, segundo o imaginário coletivo, está associada à correria, apuração nas ruas e observação de fatos que podem acontecer em qualquer lugar a qualquer momento.

– Porque sempre achei que escrevia muito bem. Cheguei a passar nos vestibulares de Filosofia, Relações Internacionais e do curso que meus pais queriam que eu fizesse, Direito. Comecei Filosofia na UFRJ, mas parei no segundo período porque percebi que meu negócio era Jornalismo. Penso na possibilidade de seguir carreira acadêmica, mas gosto muito do jornalismo impresso  – explica o estudante. 

Um programa de computador que lê textos em voz alta o ajuda a ler e escrever. Além de ter o software em seu laptop, Lucas já o instalou em alguns computadores da faculdade e do estágio que fez no Jornal da PUC. Mas não costuma usar o aparelho para fazer anotações em aula porque acha “muito chato”. Também não usa gravador, simplesmente consegue guardar na memória todas as informações. O resultado aparentemente é satisfatório, já que o aluno possui um dos maiores coeficientes de rendimento (CR) de Comunicação Social.

Para realizar as provas, o estudante pede ao professor que coloque as perguntas num pen-drive a fim de respondê-las em seu computador. Apesar das evidências de uma postura independente, Lucas sofre preconceitos em relação à sua competência, o que certamente será um empecilho a ser enfrentado em sua futura carreira profissional.

– Gostaria de acreditar que não, mas existe preconceito, sim. Tem chefe que acha que não posso fazer certas coisas sozinho quando, na verdade, posso facilmente. Às vezes é frustrante – diz.

Mesmo com as eventuais frustrações, Lucas faz uma revelação que pode soar surpreendente para aqueles que não concebem a idéia de não enxergar nada em plena sociedade de espetáculos: ele não faria uma cirurgia para ter a visão, caso fosse possível.

– Existem pesquisas que podem, no futuro, me oferecer uma cura, mas, para falar a verdade, eu não a aceitaria. Imagine que isso aconteça daqui a 20 anos. Estarei bem mais velho. Sou muito bem adaptado ao mundo em que vivo, e seria um grande choque me deparar com um outro completamente diferente. Teria que aprender a ler! – brinca, para em seguida voltar a ficar sério.

– Haveria um período de sofrimento de pelo menos dois anos no qual eu teria que me adaptar à nova realidade.

Adaptado a este mundo que não pode ser chamado de “escuridão”, pois Lucas enxerga luzes, o jovem está muito bem à vontade até mesmo nas salas de cinema. Algumas pessoas podem até não acreditar, mas ele é um grande admirador da sétima arte - tendo estado presente inclusive em várias exibições no Festival do Rio passado. Além da audição sempre atenta, ele precisa que alguém descreva o que está aparecendo na tela.

O mesmo não ocorre quando está em casa assistindo à televisão; enquanto as novelas privilegiam os diálogos, os filmes estão mais preocupados com as imagens. Alguns longas não têm uma fala sequer. Pensativo na hora de citar seu filme favorito, Lucas, que enfatiza não ter sentimento de perda quando se trata da visão, fica à vontade na hora de listar seus diretores prediletos.

– Gosto de vários. – diz, animado. – Adoro o Almodóvar, Truffaut e Woody Allen. Mas não gostei muito do seu último filme, Scoop.