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Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 2024


Cultura

Portal exibirá “Remo Usai - um músico para o cinema”

Gabriela Ferreira - Do Portal

14/04/2008

A 13ª edição do festival de cinema “É tudo verdade” premiou o documentário “Remo Usai - um músico para o cinema” nas categorias de Melhor Documentário da Competição Brasileira de Curta-metragem, Aquisição Canal Brasil de Incentivo ao Curta-metragem, e Prêmio Megacolor e estúdios Mega. Os títulos renderam R$ 16 mil ao diretor. O filme tem 20 minutos e retrata a vida e a relevância do trabalho de Remo Usai, um importante maestro e compositor da música para o cinema nos anos 1960, que assinou trilhas sonoras de “Mandacaru Vermelho”, em 1961, e “O Assalto ao Trem Pagador”, em 1962. Dirigido pelo aluno do curso de Cinema da PUC-Rio, Bernardo Uzeda, o documentário foi uma forma de sublinhar a obra de Usai.

- Nunca tinha sido muito envolvido com documentários, mas essa foi a forma que encontrei de fazer uma homenagem a ele. Achei que merecia um reconhecimento maior, pela importância não só da qualidade, mas por ele ter mudado o padrão da música no Brasil para melhor – disse.

A idéia de Uzeda não tinha sido foi cogitada, até uma conversa em um ciclo de palestras para cinema na universidade se tornar o início de uma amizade entre o músico e o diretor.

- Eu me apresentei como um fã de Remo Usai depois de uma palestra do “Música em Cena”, a qual ele também estava assistindo. Só descobri como era o rosto dele quando falaram sobre a presença do “grande maestro”. Já o conhecia de trilhas para filmes clássicos, como “O assalto ao trem pagador”, de Roberto Farias - explicou Uzeda.

Na época, Uzeda trabalhava com música para cinema e pediu o telefone de Remo Usai com o intuito de conseguir materiais de filmes antigos, mas difíceis de encontrar. Além disso, Usai contava a ele histórias de quando era aluno do compositor Miklós Rózsa (responsável, por exemplo, pela trilha de “Spellbound”, de Hitchcock, em 1945, e de “Ben-Hur”, de William Wyler, em 1959), em Hollywood. Os relatos inspiraram o diretor a querer gravar algumas entrevistas para que ficassem registradas.

- Fiquei impressionado com o fato de aquelas histórias serem desconhecidas. Porém, quando entrei para a disciplina de Projeto de Filme I, contei que tinha acesso ao Remo e vi que algumas pessoas se interessaram por fazer um filme sobre música para cinema. Com o apoio do professor José Mariani, estava me sentindo incentivado a trabalhar – contou.

Foram doze horas de filmagens e quase quatro meses de edição. As entrevistas do professor e pesquisador Hernani Heffner e do diretor de Roberto Farias, segundo Uzeda, foram fundamentais para o sucesso de seu primeiro documentário.

- O filme teve três visões diferentes. A do Remo, como figura central, a do Roberto, como diretor que viveu a época, e a do Hernani, como pesquisador, com compromisso de passar a informação e como narrador, pois eu nunca faria uma narração em off para este tipo de trabalho – argumentou.

Inseguro, Uzeda não disse a Usai que o projeto se tratava de um filme sobre sua vida. Inicialmente, o músico pensava que daria apenas uma entrevista sobre música para cinema. Apesar da amizade consolidada entre o diretor e o músico, Uzeda conta que os dois primeiros dias de entrevistas foram difíceis, pois Usai olhava muito para as câmeras e elas o intimidavam, e ele não ficava à vontade para falar sobre sua vida.

- No último dia resolvemos fazer algo bem objetivo e direto: deixamos a câmera parada, ficamos longe dela. Sentamos no sofá. A partir de certo momento, o Remo se esqueceu da câmera e as entrevistas começaram a aparecer – disse.

Uzeda atribui a simpatia de Usai por ao fato de o músico ver no aluno um pouco do que ele sofreu: as dificuldades de fazer música para cinema, o que foi essencial para que Usai fosse sincero nas respostas.

- As entrevistas ficaram boas porque ele se soltou e virou uma conversa de admirador com uma lenda do cinema, ao mesmo tempo em que estava gravando. Além disso, ele gostou do filme, ficou feliz e emocionado. Só se achou um pouco velho nas gravações. Segundo Uzeda, apesar de o cinema ser um trabalho em conjunto, o mérito maior é de Usai, já que seu trabalho foi o de condensar as informações de um tema importante. Além disso, elogia o fato de o festival ter dado atenção ao assunto, tão valioso para a cinematografia brasileira.

- Trabalhei duro, suei muito para fazer esse filme, virei noites, faltei muitas aulas. Ele merecia um longa-metragem, mas eu não tive condições de fazer isso. Mas ver a reação das pessoas gostando do filme, saindo do filme sabendo mais sobre o Remo e sobre um assunto que eu gosto tanto é o verdadeiro prêmio.

O diretor conta que sempre gostou de música para cinema e que não recusaria convites para fazer trilhas. Entretanto, com o dinheiro dos prêmios, o jovem cineasta, premiado aos 22 anos, pretende fazer o roteiro e dirigir um filme de ficção. E a música?

- Quem sabe...