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PUC-Rio

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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Cultura

PUC-Rio inaugura curso Cinema, Criação e Pensamento

Ligia Lopes - Do Portal

26/10/2011

 Ligia Lopes

Começou na última terça-feira 18, com a presença do documentarista Eduardo Coutinho, o curso Cinema, Criação e Pensamento, que tem como alunos 35 moradores de comunidades em processo de pacificação: Santa Marta, Babilônia, Chapéu Mangueira, Cantagalo e Pavão-Pavãozinho.

Considerado um dos principais documentaristas da atualidade, Coutinho dirigiu filmes como Babilônia 2000, Santo forte e Santa Marta – Duas semanas no morro, que têm como tema algumas dessas favelas. Naquela mesma noite, seu As canções, exibido na Première Brasil do Festival do Rio, receberia o prêmio de melhor documentário longa-metragem, em cerimônia no Cine Odeon.

Em um encontro marcado pela informalidade – o cineasta sentou-se no chão durante parte do tempo –Coutinho disse acreditar que o curso possa renovar o cinema brasileiro e que a sociedade deva se abrir. Para ele, a expectativa é que haja um aproveitamento mútuo, tanto para os alunos quanto para os professores.

 Ligia Lopes – Acho que o cinema deve ser feito de dentro para fora e de fora para dentro. O Brasil devia dar poder para filmar tanto a si mesmo quanto ao outro, e eu adoraria que isso acontecesse – afirmou Coutinho aos aspirantes a cineastas, antes de seguir para a festa no Odeon.

Os alunos inscritos foram selecionados pelas próprias comunidades. Como pré-requisito, o curso exigiu pessoas que já trabalhassem com cinema ou tivessem interesse na área.

O ator Michel Max, de 35 anos, veio de Minas para o Rio aos 18 anos para estudar teatro, mas se interessa por cinema desde 2000, quando fez o curso Viajando na Telinha – projeto realizado em comunidades do estado, apoiado pela Petrobras –, com o documentarista cubano Antônio Molina, no Morro do Chapéu Mangueira, onde mora há 12 anos.

– Eram cursos de roteiro, edição, luz. Depois, cada um do grupo foi para uma área. Trabalho como ator desde os 18 anos, mas me cansei de ser só um boneco que fala e anda, e então comecei a me interessar por audiovisual. Aos 9 anos ganhei uma câmera, e essa lembrança do passado veio me tomando. Sempre gostei da parte técnica, fiz curso de elétrica e no teatro, além de atuar, aprendi a fazer iluminação, montagem de som e luz. Quando comecei a fazer novelas e peças de teatro pelo Brasil, também comecei a aprender a parte técnica do cinema: a filmar, editar, fazer luz. Comecei aprendendo a mexer para mim, pegando fita VHS daquelas antigas, que mofam sempre, eu desenvolvi um jeito que eu abro, limpo o mofo, passo para DVD, depois eu jogo para o computador, manipulo. Acho que quando várias pessoas se juntam com um objetivo comum e com vários conhecimentos, dá uma coisa legal. Quero poder aprender e doar o máximo do pouco que eu sei, e ter essa troca para colocar no liquidificador para dar uma mistura bem bacana – disse Michel.

A fotógrafa Josy Manhães, de 32 anos, moradora do Cantagalo e colaboradora do Museu de Favela (MUF), ONG fundada em 2008 por líderes comunitários de Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, acredita que, além da sua experiência pessoal, o curso poderá refletir no trabalho do MUF:

– Sempre tive vontade de fazer um curso como este. Como atuo na área de fotografia, acho que tem tudo a ver. E há uma parceria entre o MUF e a PUC que se tornará ainda mais produtiva.

Criado pelo Núcleo de Comunicação Comunitária do Projeto Comunicar, da PUC-Rio, o curso terá duração de um ano e meio. O primeiro dos três módulos durará oito semanas. Os outros serão oferecidos nos próximos dois semestres.

– O Núcleo de Comunicação Comunitária foi criado com o objetivo de abrir as portas da universidade para o mundo externo, apoiar no campo da comunicação essas comunidades mais carentes. Porque, de um modo geral, de fora não se tem a mesma visão de quem está dentro – explicou o coordenador do núcleo, o professor e crítico de cinema Miguel Pereira, do Departamento de Comunicação Social.

As aulas terão partes técnicas, teóricas e práticas. O professor Flavio Kactuz há 30 anos acumula conhecimento de teatro, história e cinema e vai dar aulas conciliando os três aspectos.

– Eu vou dar uma parte teórica, com a História do Cinema – especificamente as vanguardas no cinema – e depois vou dar uma parte prática de direção de atores, trabalhando a relação entre o ator, o diretor e o cinema. Estou muito empolgado, porque é a hora de a gente compartilhar conhecimento e contribuir – afirmou Kactuz.