Projeto Comunicar
PUC-Rio

  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram

Rio de Janeiro, 24 de abril de 2024


Cultura

Documentário aponta a complexidade de Marcelo Yuka

Mariana Alvim - Do Portal

14/10/2011

 divulgação

Em uma conversa, o poeta Waly Salomão disse ao baterista Marcelo Yuka que a vida oferece muitas setas, mas é preciso identificar quais levam ao melhor caminho. O conselho ajudou a diretora Daniela Broitman a nortear seu novo documentário, Marcelo Yuka no caminho das setas. No último dia 12, em pleno feriado, o documentário foi exibido numa sala cheia do Pavilhão do Festival do Rio, no Píer Mauá. Como propõe o Cine Encontro, o filme foi tema de um debate que reuniu Yuka, Daniela e o crítico de cinema Carlos Alberto Mattos, mediador do debate.

Daniela, que já era amiga do ex-baterista e fundador da banda O Rappa, conta que levou um ano para convencê-lo a ser personagem do documentário. A cineasta acredita que a rejeição se deveu ao fato de Yuka ser muito “crítico” e “exigente com ele mesmo”.

– Eu achava tudo que ele falava incrível. Ele é muito carismático e divertido, mesmo quando está irritado. Vi que a história e a figura dele davam um filme – contou a cineasta, que conseguiu patrocínio da Petrobras, da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro e da John Simon Guggenheim Memorial Foundation para realizar o filme.

Yuka foi modesto ao falar do documentário, que narra sua trajetória desde que ficou paraplégico após levar nove tiros em uma tentativa de assalto, em 2000.

– O filme mostra muito pouco dos meus podres. Eu sou muito pior do que isso. Falei com a Daniela: tenho medo de o filme ficar chapa-branca. Acho que apareceu mais quem eu sou pela ótica da mídia, do ativista, do herói que superou dificuldades – opinou o músico. – Eu sou a construção de um mito e, na midiatização que vemos hoje, o mito é fundamental. E todo mito precisa de uma tragédia.

Carlos Alberto destacou que há recentemente uma leva de documentários brasileiros sobre artistas, mas que o grande mérito do filme de Daniela é mostrar o personagem na sua complexidade.

– Ele não foca no Marcelo artista, nem no Marcelo herói ou vítima. Fala de alegria, dor e música. É um filme que aborda a complexidade do ser.

O filme foi muito aplaudido depois de sua exibição no Pavilhão, e o público logo lotou a sala de debate, deixando muitos espectadores em pé. Marcado para as 15h, o Cine Encontro só começou com a chegada de Yuka ao Píer Mauá, 40 minutos depois. O músico contou que a mãe brigou com ele durante todo o trajeto por estar atrasado. dona Luiza, que não falava com a imprensa desde o incidente com o filho, fez questão de se pronunciar:

– Insisti para que o Marcelo viesse porque você (Daniela Broitman) merece. Achei o filme muito bom – disse Luiza.

– Eu nunca vi meus pais tão felizes nos últimos meses como agora – emendou Yuka, que não assistiu à versão final, que só ficou pronta dias antes do FestRio, para incluir a participação do músico no último Rock in Rio.

Formada em jornalismo, Daniela trabalhou em veículos como O Globo, Folha de S.Paulo e BBS, emissora pública dos Estados Unidos. Ela começou a carreira como documentarista em 2002 e já filmou dois longas: A voz da ponta – A favela vai ao Fórum Social Mundial (2003) e Meu Brasil (2008).

Ao introduzir o documentário, Daniela agradeceu ao público por comparecer ao Pavilhão em pleno feriado. Gente como o economista Sascha Dowek, de 32 anos:

– Já estava esperando este filme há muito tempo. Vim porque aqui tenho a possibilidade de ver filmes diferentes, que você não vê no circuito normalmente. Fora que aqui, como no Odeon, tem um clima de festival. E a vista é linda.

Marcelo Yuka no caminho das setas será exibido nesta sexta (14), no Cinema Nosso, na Lapa, às 19h; e sábado (14), no Ponto Cine, às 18h. O documentário foi selecionado também para participar da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa no próximo 21 de outubro.