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Rio de Janeiro, 27 de julho de 2024


Cultura

Audiência crescente amplia onda retrô na TV brasileira

Thaís Bisinoto* - Do Portal

19/10/2011

 Arte: Jefferson Barcellos

A sucessão de reprises e releituras na tevê brasileira levanta receitas, lembranças e, talvez na mesma proporção, dúvidas sobre a capacidade e a vontade de contar histórias originais. Por um lado, a audiência elevada (a estreia de "O Astro" rendeu 28 pontos de audiência à TV Globo) atesta o interesse do telespectador em rever histórias antigas – com e sem roupa nova – e embala os investimentos do gênero. ("Gabriela" está programada para o próximo ano.) Por outro lado, a onda retrô reacende discussões em torno da (falta de) inventividade.

Autores, produtores e diretores negam que a expansão do vale-a-pena-ver-de-novo represente uma crise de originalidade. "É necessária muita criatividade para atualizar algo antigo, sem mudar sua essência", argumenta Tarcísio Lara Puiati, um dos roteiristas da nova versão de "O Astro", que reinaugurou o horário das 23h na TV Globo.  

Puiati acredita que o sucesso de remakes e reprises deve-se ao “espírito saudosista do ser humano”. Segundo ele, o homem tem “prazer” em assistir a “algo que já foi”. No caso das releituras, o “grande trunfo”, de acordo com o especialista, é a atualização dos temas. Por isso, ao contrário do que se pode imaginar, a “criatividade é essencial”.

– Não é que não temos história nova. A ideia é aproveitar o sentimento saudosista do público e brincar com isso – justifica o roteirista.

Há quem perceba, no entanto, uma ponta de inércia nessa primavera retrô. A jornalista e professora da PUC-Rio Rose Esquenazi, especialista em história de rádio e TV, identifica uma “estagnação no mercado de novos roteiristas”. Isso dificulta, na avaliação da professora, o desenvolvimento de novas produções.

Já Puiati considera que as reprises têm um certo caráter cômico. “Rir do passado é mais ou menos o que acontece com o espectador do Viva (canal especializado em reprises)”,  observa. A estratégia deu tão certo que o canal ajustou a sua grade de programação para explorar melhor as atrações movidas a nostalgia.

– A TV tem história e o público tem curiosidade de ver essa história. O gancho do canal Viva é proporcionar a oportunidade de ver e rever os clássicos da televisão brasileira, como TV Pirata ou "Roque Santeiro" – acrescenta a professora da PUC-Rio Vera Novello, especialista em teatro e comunicação.

Na opinião de Rose, “o segredo do Viva são boas histórias e emoção”. O roteirista concorda: “o fato de ser uma grande história causa um interesse natural”.

“Grandes histórias” impulsionam reprises e releituras. Sucessos nas versões originais mantêm índices elevados de audiência em adaptações. Foi o caso da novela "Ti Ti Ti", original de Cassiano Gabus Mendes, dos anos 1980; e é o caso de "O Astro", escrita por Janete Clair nos anos 1970. O mesmo êxito tem sido observado com as reprises.

– Existem anacronismos nisso (nas reprises), claro, mas é como ver um filme de Chaplin – pondera Vera.

A professora aponta dois motivos – opostos – para o investimento em remakes. O primeiro remete ao sucesso de uma história que, assim, “já está alguns passos à frente de uma que comece do zero e, por isso, tem grandes chances de fazer sucesso novamente”. Já o segundo representa a “tentativa de fazer uma produção fracassada dar certo”.

Vera concorda com Tarcísio Puiati e reitera que a “atualização dos temas” é ponto a favor das releituras. Para ela, os remakes devem ter uma “sintonia com o agora”:

– Devem considerar as novas influências e atualizar, por exemplo, as obras que impactaram o público no período entre a versão original e a adaptada. Isso tudo sem descaracterizar o que a história tem de bacana – ressalva.

A professora acredita que o interesse do telespectador nas adaptações recai não só na história propriamente dita, mas na (nova) maneira como é contada:

– O prazer está também na forma. Se o interesse fosse só na história, não haveria diferentes versões para mesmas peças no teatro. Não faria sentido – argumenta.

Com o êxito da nova versão de "O Astro", a Globo confirma a aposta no horário das 23h. Já programa, adianta Puiati, a releitura de um outro clássico bem-sucedido: "Gabriela", em homenagem aos centenário de Jorge Amado (a novela foi adaptada do romance "Gabriela, cravo e canela", do escritor). Em fase de escolha do elenco, a produção assinada por Walcyr Carrasco será exibida no primeiro semestre do próximo ano.

*Com colaboração de Carina Bacelar.