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Rio de Janeiro, 26 de julho de 2024


Cultura

Jovem cineasta lança no FestRio filme produzido na PUC

Monalisa Marques - Do Portal

07/10/2011

 Foto: Divulgação

Depois de passar por Nova York e Miami, Assim como ela, o filme de estreia de Flora Diegues, formada em cinema pela PUC-Rio, terá sua primeira exibição pública em solo carioca neste Festival do Rio. O curta-metragem, produzido na PUC e selecionado para a Première Brasil, será lançado domingo (9), e terá sessão popular segunda-feira (10), no Pavilhão do Festival. O curta é resultado de experiências pessoais e observações de Flora. Nascida em berço de películas, entre roteiros, takes e cenas – é filha do cineasta Cacá Diegues e da produtora Renata de Almeida Magalhães –, a recém-formada cineasta reflete desde a adolescência acerca das implicações às quais a fama pode levar, o que a motivou a pensar num filme cuja proposta é “desmistificar o ídolo”.

– Como a grande maioria da minha geração, cresci assistindo a novelas e filmes e idealizando seus personagens. Queria ser como eles. Mas, por volta dos meus 14 anos, percebi que não era bem assim. Devido à minha breve carreira de atriz ao longo da minha adolescência e aos meus 15 anos de teatro, pude conhecer de perto os atores da minha fantasia. Vi que eles eram muito diferentes daquilo mostrado na tela: não eram tão bonitos, tão legais, tinham vidas complicadas e inseguranças como as minhas – ela diz.

Realizado para a disciplina do curso de cinema da PUC-Rio Projeto de Filme II, em 2010, o curta-metragem foi selecionado para o Circuito Inffinito de Festivais, já tendo passado pelo 9th Cine Fest Petrobras Brasil-NYC e pelo 15th Brazilian Film Festival de Miami. Ainda este mês, participará do Vancouver International Film Festival e, mais tarde, do Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro.

Embora o objetivo (explicitado no projeto) tenha sido produzir algo com qualidade suficiente para concorrer nos mais variados festivais, a equipe não tinha ideia da dimensão que atingiria. O produtor do filme, Carlos Eduardo Valinoti, conta ter sido este o maior curta, em termos de equipe e produção, que já fez até agora:

– Eu me dei conta da proporção que o filme tinha tomado durante a filmagem de uma das cenas principais. Nesse dia, eu percebi que tínhamos armado nosso circo, com equipamentos espalhados por toda a Praça Cazuza, uma multidão assistindo ao set, multidão que acabou virando nossa figuração, paparazzi de verdade fotografando tudo. Até uma equipe de TV foi cobrir as filmagens. Era um domingo, chegamos às 7h da manhã e ao meio-dia estávamos no auge da cena e tudo acontecia simultaneamente. Ao todo, eram 25 pessoas trabalhando em set. 

 Foto: Divulgação  Com um ideal bem embasado, um projeto bem estruturado e convincente e o sobrenome da família, Flora convenceu Deborah Secco a protagonizar seu filme. A atriz acreditou no projeto e, animada pelas gravações de Bruna Surfistinha, aceitou trabalhar no curta-metragem de graça. Segundo Carlos Eduardo, a escolha de uma atriz famosa para o papel foi fundamental para captar a reação genuína das pessoas comuns na rua, o que possibilitou que conseguissem uma sequência documental que sequer foi ensaiada.

A trama de Assim como ela se desenvolve em torno do encontro entre América, uma famosa atriz de novela, e uma fã. A narrativa explora, paradoxalmente, a relação de desencontro entre os ideais da tiete e a crise existencial da artista. Constantemente assediada e pressionada a corresponder ao imaginário criado sobre ela, a atriz perderia a própria identidade. Luiza Yabrudi, que interpreta a maior admiradora de América, reflete: 

– Acho uma relação muito particular, essa de fã e ídolo. Ela só existe à distância, pela falta de relação. Uma vez que o ídolo e o fã se conhecem, bebem uma cerveja e viram amigos, a idolatria desaparece. De perto, os ídolos têm um marido baixinho, vestem uma roupa de mau gosto ou acham que a capital do Brasil é Buenos Aires. É a vida real, sem a fantasia e o frio na barriga.

A personagem América seria, portanto, a representante de um grupo de celebridades que, por levarem a responsabilidade de serem referências para os fãs muito a sério, acabam esquecendo quem realmente são e perdem a referência de si mesmos. Foi devido a esta percepção, conjugada a experiências não tão boas em sua primeira peça teatral profissional, que Flora trocou a carreira de atriz pela direção. Fosse no teatro ou no cinema, na verdade sempre soube que trabalharia com dramaturgia. A escolha pelo cinema, segundo ela, não foi feita por pressão dos pais, que, ao contrário do que se possa pensar, foram os primeiros a chamar sua atenção quanto às complicações e instabilidades do meio.

– Eu cresci vendo filmes, sou muito íntima deles, e o cinema mistura tudo o que eu mais amo na vida: história, imagem, grupo, decoração, roupa, música e atuação. Na verdade, quando entrei na PUC tinha o objetivo de produzir, e os primeiros curtas eu fiz como produtora. Um dia eu me dei conta de que estava gastando muita energia realizando as fantasias dos meus amigos, enquanto eu tinha as minhas próprias e que poderiam ser feitas. Aí eu tomei coragem e fui dirigir. Poder transformar um sonho seu em algo tão parecido com a realidade é incrível. É como se você brincasse de Deus por uma curta temporada – brinca.