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Rio de Janeiro, 4 de maio de 2024


Cidade

Registros da primeira impressão do Morro dos Prazeres

Igor de Carvalho - Do Portal

18/10/2011

 Igor de Carvalho

Num sábado de sol e calor no Rio de Janeiro, com praias e pontos turísticos cheios, cerca de 60 alunos do professor Paulo Rubens na disciplina Fotojornalismo, do 4° período de Comunicação Social da PUC-Rio, fizeram uma visita ao Morro dos Prazeres, em Santa Teresa. A comunidade, que há cerca de um ano sofreu com as chuvas que mataram 34 pessoas, e desde fevereiro conta com uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a 16ª da cidade, recebeu o grupo com simpatia. Crianças acompanharam muitos dos estudantes durante a subida. O objetivo era produzir fotos dessas pessoas e abordar sua relação com a bela vista que rodeia o morro.

– Escolhi o Morro dos Prazeres pela sua fotogenia, com os muitos planos de luz e sombra, pela fartura de cores e de tipos humanos que uma favela propicia, por ser uma área que reproduz uma situação tipicamente carioca a ser compreendida por futuros jornalistas, e também por ser uma área pacificada – explicou Paulo Rubens.

Estereótipos e falsas impressões foram desfeitos ainda na semana que antecedeu à realização do trabalho, quando a presidente da Associação dos Moradores do Morro dos Prazeres, Eliza Rosa Brandão, esteve na PUC para conversar com os alunos sobre a história e o contexto da comunidade.

No dia da visita, diante da movimentação de pessoas com câmeras fotográficas em mãos, tirando fotos de tudo e de todos, os moradores, num primeiro momento receosos, aos poucos foram se acostumando com a presença e conversando com os visitantes, que precisaram de ajuda para chegar ao topo do morro. As crianças eram as mais animadas. Rodeavam os alunos, faziam poses e depois olhavam os resultados nas telas das câmeras.

A visita ocorreu antes do anúncio de que o Morro dos Prazeres será palco da primeira Festa Literária Internacional das UPPs, a Flupp, que promete levar à comunidade escritores e editoras, nos moldes da Flip. O encontro, previsto para novembro de 2012, será organizado pelo escritor e pesquisador Ecio Salles, pela pesquisadora Heloísa Buarque de Holanda, pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, pelo escritor Julio Ludemir e pelo empresário Alexandre Mathias.

Alunos se emocionam com acolhida

O Portal ouviu alguns dos alunos que estiveram no Morro dos Prazeres naquele sábado para saber das suas impressões sobre a experiência:

"A impressão que se tem, muitas vezes devido aos noticiários, é que na favela só tem bandido. Na verdade, eu não tinha essa visão do Morro dos Prazeres, já conhecia um pouco a sua história. A subida causa certa canseira a quem não está acostumado, e a falta de infraestrutura e o lixo a céu aberto me causaram certo estranhamento, já que não estou acostumada a observar isso diariamente. Mas o que me surpreendeu, acima de tudo, foi a simpatia e a generosidade dessas pessoas. A simplicidade de abrirem as suas portas e nos convidar a entrar sem cerimônia, quadro diferente do que encontramos na Zona Sul, por exemplo. As crianças, sempre ao nosso redor, se divertiram nas poucas horas que passamos juntos a eles. Marcou muito uma frase, que todos diziam: "Sejam bem-vindos à nossa casa". O tom acolhedor faz com que qualquer um se sinta em casa, íntimo. Pessoas simples e de bem com a vida se veem em qualquer lugar. Não esperava ser tão bem acolhida. Na verdade, achei que a nossa presença fosse causar certo estranhamento, já que estávamos adentrando o território deles, o que em momento algum  aconteceu. O saldo foi mais do que positivo." Stephany Ferreira Bizzo

"Eu nunca tinha ido a uma favela, apesar de viver bem perto de uma, o Morro do Salgueiro, na Tijuca. Fiquei animada com a proposta, porque sempre tive vontade de subir o morro, não para vê-los de forma infantilizada ou como 'atrações turísticas', que não são, mas pela obrigação de conhecer melhor como vive boa parte da população da minha cidade, ainda mais como futura jornalista. E ainda seria interessante do ponto de vista fotojornalístico. Os elementos daquela paisagem e as próprias expressões das pessoas que fotografei ali dizem muito sobre a vida que a cidade reserva a boa parte dos seus habitantes. Fiquei impressionada com a receptividade que encontrei por lá. As pessoas posavam para fotos entusiasmadas. E, apesar de ser clichê, encontrei lá uma felicidade que não costumo encontrar no asfalto, até na minha própria casa. Depois de 30 minutos, os moradores realmente nos fizeram nos sentir em casa." Carina Bacelar

"A ida ao Morro dos prazeres, com o perdão do trocadilho, foi um prazer. Foi a primeira vez que fui a uma favela e achei bem interessante. Muito diferente do que eu imaginava. A maioria das pessoas era bem gentil conosco, as crianças em especial sempre pediam para tirarmos fotos delas e faziam poses e tudo o mais. Apesar do calor, foi uma experiência muito legal. Conheci uma realidade da qual nunca havia me dado conta." Felipe Sbardella