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Rio de Janeiro, 20 de abril de 2024


Economia

Analistas apontam remédios para conter a inflação

Thaís Bisinoto - Do Portal

13/09/2011

 Arte: Jefferson Barcellos

Enquanto o risco de calote da Grécia derrama mais combustível na crise externa e as Bolsas oscilam mundo afora, a inflação torna a assombrar o Brasil. No mês em que o Banco Central reduziu a taxa básica de juros (Selic), depois de cinco altas seguidas, os preços subiram acima do previsto. Acumularam alta de 7,24% desde agosto do ano passado, o maior salto dos últimos seis anos. Só os alimentos estão 0,7% mais caros. Parece pouco, mas é suficiente para ameaçar o teto da meta estipulada pelo governo (6,5%) e reacender a preocupação sobre o fantasma que atormentou o país nos anos 1980. Como conter a inflação, deixá-la apenas na memória? O Portal PUC-Rio levou essa inquietação a analistas econômicos. Eles acreditam que o corte de gastos públicos e o freio no crescimento sejam indispensáveis para afastar o país da escalada de preços. O consultor econômico Luis Carlos Ewald, ex-professor de economia da PUC-Rio, lembra que a medida vale também para pessoa física. “Uma solução é cortar as despesas, para ter menos dinheiro na praça”, explica. Já a professora de economia da universidade Mérida Medina qualificou a redução da Selic, nesse cenário de inflação, de precipitada e “muito intensa”.

Na avaliação de grande parte dos economistas, o governo deve coordenar medidas específicas para controle da inflação, mesmo que representem um freio no crescimento ambicionado. A começar pelo corte dos gastos públicos, reiteram os analistas. Enquanto procura-se equacionar um avanço econômico razoável sem a fatura inflacionária, o consumidor deve, como dizem, "fazer a sua parte". Isso significa, por exemplo, evitar os endividamentos e os preços abusivos:

– As pessoas não devem se endividar, de maneira alguma, e devem tentar reduzir as despesas e controlar a compra do que estiver fora do preço usual – orienta Ewald.

O consultor revela-se pessimista em relação à política econômica. Considera “complicada” a tentativa de manter o crescimento em meio à inflação, e lembra que o aumento no salário mínimo, em vigor a partir do próximo ano, representará aumento de R$ 21 bilhões aos cofres públicos. Um ônus que, segundo ele, exige grande capacidade financeira:

– A política da [presidente] Dilma é muito perigosa. Os riscos são grandes. Em janeiro, com o aumento de 14% no salário mínimo, todos vão sofrer. Não sou contra essa valorização, mas tem que ter produto e produção – avalia.

O especialista prevê dificuldades à meta do governo de manter a inflação abaixo dos 7% no ano que vem, “principalmente porque nosso instrumento tradicional para contê-la tem sido aumentar a taxa de juros”. Na opinião dele, melhor remédio seria encarecer o crédito e evitar estoques especulativos. 

Apesar do aumento preocupante dos preços, Ewald percebe, por outro lado, uma certa inclinação ao desespero. Resultado, acredita ele, do trauma deixado pela inflação que, nos anos 1980, chegou a atingir 84% ao mês. "O brasileiro é o alcoólatra da inflação: se toma um gole dela, fica desesperado. Aliás, estão todos desesperados", compara.

Ewald integra o grupo de economistas preocupados com a estratégia de reduzir a taxa Selic, adotada no mês passado, justamente quando os índices de preços sinalizavam um avanço inflacionário. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, argumentou que a inflação teria dado sinais de haver alcançado o "pico". Todavia, na avaliação de analistas, como Ewald, a Selic baixa pode ser sinônimo de inflação.

A professora de economia da PUC-Rio Mérida Medina assume posição similar à de Ewald. Ela explica que "a recessão é a forma tradicional de se conter a inflação e, portanto, a mais segura". A menos tradicional – no caso, a redução da taxa básica de juros – representa, para a economista, um perigo, pois pode ter "consequências não mensuráveis".

– A queda da Selic foi um pouco ousada, não foi prudente. Não se deve fazer uma medida econômica sem saber qual pode ser o resultado – pondera.

Mérida também aponta o corte de gastos públicos como um remédio obrigatório para a queda da inflação. Ela ressalva, no entanto, que uma dose exagerada trará outros problemas:

– Apesar de ser uma solução para a inflação, ele (o corte de gastos) impõe uma questão importante: até que ponto o setor público vai parar de funcionar?