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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Economia

"Menos corrupção é essencial à estabilidade econômica"

Gabriela Caesar - Do Portal

30/08/2011

 Eduardo de Holanda

Depois de relançar Saga brasileira, a luta de um povo por sua moeda (Editora Record, 476 páginas, R$ 49,90) e comandar debate com a participação dos estudantes, quarta-feira passada, na PUC-Rio, a jornalista Miriam Leitão conversou com o Portal sobre o novo livro, os anticorpos para superar a crise externa e a importância do combate à corrupção para a estabilidade econômica. A publicação une histórias de pessoas comuns com os bastidores – erros e acertos – da economia nacional e, de acordo com Miriam, também pode ser vista como "fonte de consulta". Nesta rápida entrevista, ela explica como a profissão lhe ajudou a escrever e conta como guardou lembranças do período retratado pelo livro.

Portal PUC-Rio Digital: Como a profissão de jornalista na área de economia lhe ajudou a escrever Saga brasileira, a luta de um povo por sua moeda?

Miriam Leitão: Fruto da minha opção pelo jornalismo econômico, o livro é a soma de tudo o que eu vi acontecer, todos os fatos que cobri, todas as entrevistas que eu fiz. Depois, eu fiz o trabalho de pesquisa. Mas a base de tudo foi a história que eu contei no meu dia a dia de jornalista de economia.

Portal: O que foi mais difícil?

Miriam: Tudo foi difícil e prazeroso, na verdade. Eu tive de ler muitos jornais antigos e revistas também. Até na hora em que eu fui pesquisar sobre a Alemanha, por exemplo, eu encontrei material no jornalismo. Cheguei a ler alguns livros de economistas e historiadores, mas eu queria saber como era a vida na Alemanha em 1923. Encontrei isso em crônicas de um jornalista catalão que foi correspondente lá. Fiquei com a noção exata de que o jornalista é muito importante para o registro do cotidiano. Ele faz pensando que vai acabar, que no dia seguinte não tem mais importância, mas depois ele é fonte fundamental para escrever a História.

 Divulgação

Portal: Durante a palestra aqui na PUC, a senhora disse que guardou algumas lembranças daquela época retratada no livro. A que se referia?

Miriam: Recortes de jornal, personagens que de repente apareciam. O que eu guardei fundamental até para ilustrar o livro foram duas edições da revista inglesa The Economist, que têm um intervalo de dez anos entre elas e usam fotografia do Rio na capa, mas uma falando de crise e outra de sucesso. Marca bem os dois momentos do Brasil. Guardei uma reportagem da jornalista Flávia Oliveira, publicada em O Globo, quando o real fez dez anos. Ela foi para dentro de colégios e conversou com jovens que não tinham memória inflacionária. Essa reportagem, por exemplo, foi importante para eu contar o que vem depois da queda da inflação. Eu guardei notas. Uma das notas que guardei foi a última moeda da economia inflacionada. Eram 50 mil cruzeiros reais. Eu coloquei na parede como quadro para nunca me esquecer.

Portal: O livro conta as mudanças pelas quais o país passou até a economia estabilizar. A senhora ressalva, no entanto, que o Brasil não é tão aberto a produtos internacionais, apesar da abertura promovida pelo presidente Fernando Collor no começo da década de 1990. Por quê?

Miriam: Todo país tem muita pressão protecionista, principalmente em momentos como esse, de crise econômica. A indústria pede que seja protegida. Mas essa proteção não pode ser feita contra o consumidor. Você não pode elevar uma tarifa de importação e dar o país como uma reserva de mercado. Você ainda tem tarifa de 40%, por exemplo, para bens de informática. E bens de informática, hoje, são artigo básico para o desenvolvimento e para a pesquisa. Você tem muita proteção a setores empresariais que, em vez de aproveitarem a situação para se desenvolver, desperdiçam a oportunidade porque sabem que estão protegidos da competição internacional.

Portal: Problemas políticos dificultam a superação da crise nos Estados Unidos. No Brasil, a  instabilidade política, com a queda de ministros, pode também atrapalhar as medidas para o país passar bem pela crise?

Miriam: A queda de ministros é o início de um processo – que talvez dure décadas – da construção de um país com menos corrupção. O governo está tendo diminuir a corrupção no Brasil. A corrupção mina a economia também, assim como a política, a ética e a confiança do eleitor. A corrupção cria padrões de ineficiência econômica. Porque, dentro de uma empresa que quer fornecer ao governo, quem é que vai assumir a direção: aquele cara eficiente, competente, que quer o menor custo, ou aquele cara que sabe a quem entregar a mala com dinheiro? Isso corrompe o setor privado também. Existem alguns partidos ali que não sabem ser oposição, só sabem ser governistas. Eles vão reclamar muito, mas vão acabar indo com o governo, porque eles não sabem ser diferente do que são.