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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Cultura

A Corte portuguesa no Brasil revista por novos ângulos

Bruno Alfano - Do Portal

15/09/2011

 Reprodução

Em 2008, no bicentenário da vinda da família real ao Brasil, proliferaram trabalhos – inclusive um best seller – sobre esse que é considerado um dos principais momentos da História do Brasil. Entre tantas iniciativas, um grupo de pesquisadores de diversas instituições, como PUC-Rio, UFRJ, UFF e Uerj, se reuniu no seminário Relações Luso-Brasileiras: D. João e o Oitocentismo, no Real Gabinete Português de Leitura, para discutir o assunto. Do encontro nasceu um dos mais completos livros do período. Recém-lançado, D. João e Oitocentismo lança mão de olhares que complementam os dos historiadores, com a visão de pesquisadores de letras, arquitetura, filosofia e comunicação, entre outras áreas do conhecimento.

De acordo com a professora de História Tânia Bessone, uma das organizadoras do livro, o período joanino – aquele em que D. João VI governou do Brasil – é de fundamental importância para se compreender o desenvolvimento do país. Segundo ela, esse período foi decisivo.

– O Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro, experimentou grandes mudanças na vida cotidiana, seja quanto ao perfil urbano da cidade, a presença de estrangeiros, pintores e arquitetos, livreiros, bibliotecas, a divulgação de produtos estrangeiros e de bens de luxo nos anúncios de jornais, seja quanto à presença populacional mais densa e diversificada – explica.

Para a organizadora, D. João e Oitocentismo tem o mérito de explicar como fatores impediram um desenvolvimento maior do país nesse período.

– Muitas transformações foram limitadas pela presença da escravidão e por outros graves problemas presentes no Brasil. Essas contradições foram muito bem analisadas dos artigos.

Segundo Tânia, este não é mais um livro sobre o período. O texto de apresentação registra que, "mal se encerrou o encontro, a organização logo passou a receber solicitações para que ao menos uma seleta dos trabalhos expostos viesse a circular em suporte impresso”. 

– Poderia parecer tardio, mas é uma produção de qualidade que trouxe à baila temas que refletem o rico diálogo realizado sobre a temática – justifica a organizadora, professora do Departamento de História da Uerj.

Entre os articulistas há alguns ex-alunos da PUC-Rio, como a professora Madalena Simões. O escritor Silviano Santiago é outro que contribuiu com um artigo. O pesquisador é enfático ao apontar a importância do período joanino.

– Recentemente fui a Angola. Pude ver, em toda a sua extensão, a permanência do colonialismo português até 1975. De imediato, bateu-me a imagem do Brasil no início do século XIX. Não há como comparar e muito menos avaliar o que se passou no Brasil e na Angola nos dois últimos séculos – afirma.

Segundo ele, a situação do país africano o fez refletir sobre a vinda da Corte a ponto de influenciar sua opinião: de crítico, passou considerar perspectivas mais generosas da presença do rei português no Brasil.

– Não teríamos sido o que somos hoje sem a sua viagem ao Brasil, por menos imponente e nebulosa que tenha sido a sua figura – compara.

Com o artigo A casa de Bragança nos seus domínios americanos: abordagens historiográficas, a pesquisadora Lúcia Guimarães está entre os 25 acadêmicos que assinam artigos no livro. Segundo a pesquisadora, um ponto importante da obra é que ela é formada por estudiosos brasileiros e também portugueses.

– Isto confere uma visão mais panorâmica, não apenas em termos temática, mas também do ponto de vista interpretativo, pois abarca a questão da vinda da Corte e suas consequências nas duas margens do Atlântico – afirma.

Em seu artigo, Lúcia demonstra essas diferentes formas de enxergar a transferência da corte para o Brasil.

– Meu trabalho busca demonstrar que a transferência da Corte portuguesa tem dimensões diversas: para a historiografia brasileira, significa o fim do pacto colonial e a gênese do Brasil independente; para a historiografia portuguesa, significa o início da derrocada do Império Colonial português – conta.