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Rio de Janeiro, 27 de abril de 2024


Cultura

Marcondes: 'A filosofia pode resultar em algo prático e útil'

Monalisa Marques - Do Portal

02/09/2011

 Monalisa Marques

A filosofia deve ter aplicações práticas. É o que defende o professor e doutor em filosofia Danilo Marcondes, autor do livro A filosofia: o que é, para que serve? (Editora PUC-Rio/Zahar), escrito em parceria com Irley Franco, também professora do Departamento de Filosofia da PUC-Rio. Para Marcondes, isto só é possível com a integração a outras áreas de conhecimento.

– Uma moral hoje só é possível se a filosofia trabalhar com outras áreas do conhecimento, áreas que trazem preocupações análogas, como psicologia, direito, sociologia, antropologia e administração. São áreas em que o interesse pela ética é tão grande quanto o nosso, só está em outra dimensão. É possível repensar os conceitos e trabalhar em articulação. Mesmo que isto envolva conflitos de opiniões e discordâncias profundas entre pensamentos típicos de cada área, é a única maneira de desenvolver algo prático e útil sob o ponto de vista de uma moral aplicada – afirma.

Segundo o professor, a filosofia, por ser crítica e reflexiva, tem como característica se pôr em questão. Marcondes diz isso por experiência própria. Se, no passado, pensava que a filosofia não leva em consideração a conjuntura, hoje sua preocupação é oposta: mostrar que, pela discussão com outras áreas de saber, é possível descobrir que algumas crenças devem ser repensadas.

– Quando outras áreas, como a administração, nos pedem ajuda quanto à questão da ética, geralmente ficamos sem resposta. Isto me parece um tanto insatisfatório, e por isso dei início a um projeto de pesquisa sobre a moral aplicada. A ética é, talvez, a área da filosofia que mais trata da nossa vida concreta e, por isso, é a mais difícil para nós, filósofos.

No estudo da ética e da moral, assunto que mobiliza discussões desde Aristóteles e perdura até o século XXI, o doutor em filosofia lembra o pensamento de Kant sobre a acrasia, a “fraqueza de vontade”, que causa dissonância entre o que se considera certo e o que é adotado, de fato, como conduta. A transgressão desses princípios, segundo Marcondes, não os anula. Nem sempre agimos de acordo com nossos ideais, e isso não significa que eles deixem de existir. Com isso, nasce a necessidade de separar o ato cometido da pessoa que o cometeu.

– Para Kant, a moral não deve ser considerada como ponto de partida, mas como ponto de chegada. Os princípios funcionam como rumos, ideais regulativos que nos orientam e reorientam – lembrou Marcondes no encontro Reflexões filosóficas, debate sobre ética e moral realizado pelo Departamento de Filosofia da PUC, na última semana de agosto.