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Rio de Janeiro, 25 de abril de 2024


Campus

PUC-Rio tem 42% de estudantes bolsistas na graduação

Gabriel Picanço - Do Portal

23/08/2011

 Lucas Terra

Programas do governo federal, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), e a adoção de cotas sociais ou raciais nos vestibulares de universidades são medidas que visam ampliar o acesso de jovens de camadas excluídas no ensino superior brasileiro. No caso das federais, estudo recente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) indicou aumento de alunos negros e pardos no ensino superior entre 2003 e 2010, de 34,2% para 40,8%, enquanto o percentual de estudantes de classes C, D e E teria tido ligeira alta, de 42,8% para 43,7%. Segunda melhor universidade do Rio e 13ª do país, de acordo com indicadores do Ministério da Educação, a PUC-Rio apresenta dados equivalentes no que se refere à inclusão social: tem entre seus 12.952 alunos de graduação 5.403 beneficiários de bolsas de estudo, parciais ou integrais, ou 42%.

À frente da Vice-Reitoria Comunitária há 18 anos, o responsável pelos programas de inclusão é o professor Augusto Sampaio. É ele quem cuida, muitas vezes pessoalmente, dos casos dos muitos alunos que têm o sonho de estudar na PUC, mas não têm condições financeiras para bancar os estudos – das 17 modalidades oferecidas, apenas o Prouni leva também em consideração a raça na seleção dos bolsistas. Augusto considera o número de bolsistas um sucesso, e lembra que este é um cenário único, que não se encontra em outra universidade particular. Segundo o vice-reitor, a prioridade, agora, é dar um jeito para que esses alunos consigam chegar ao fim dos cursos. Para muitos, alimentação, moradia e transporte são problemas que podem impedir a realização desse sonho. Em entrevista ao Portal, Augusto Sampaio revela um panorama dos programas de bolsa da universidade e os planos para ajudar os estudantes a se formar.

Portal PUC-Rio Digital: Atualmente, quantos alunos são atendidos por bolsas na PUC?
 
Augusto Sampaio: A PUC é uma instituição de ensino singular. Entre as universidades e escolas particulares, a PUC é diferente, pela sua história. Até a década de 1970, era uma universidade semiestatal. Todo o orçamento destinado à área da tecnologia e da economia vinha do governo federal. O Ministério da Ciência e da Tecnologia bancava toda essa parte. O governo saiu ao logo da década de 1970, e nós tivemos que aumentar o número de alunos. Tínhamos somente 6 mil alunos. Hoje temos 12.952 alunos na graduação, com um total de 5.403 de alunos com algum tipo de bolsa, entre as parciais e integrais. Não existe um quadro igual a esse. Quando se fazem as contas, isso significa uma renúncia de receita em torno de 34%. É como se 34% de alunos da PUC não pagassem. Não há nenhuma outra instituição de ensino que seja assim.

Portal: E que bolsas são essas?

Augusto Sampaio: O nosso carro-chefe é a Bolsa PUC. Ela foi feita para aquele aluno de perfil de classe média, basicamente. Com pai funcionário público, ou mesmo profissional liberal, que não tem condições de pagar a faculdade do seu filho. A PUC precisa de bolsas para ter alunos, e ter bons alunos. Nós somos cercados por boas faculdades públicas federais, como UFRJ, UFF, Uerj, IME, Cefet. Se não tivermos bolsa, muitos bons alunos não ficam aqui. Na Bolsa PUC, são 1.560 alunos. A Bolsa de Desempenho é para os 100 primeiros colocados no vestibular da universidade. O aluno pode ser muito rico, mas os 100 primeiros têm direito a essa bolsa. A PUC faz isso porque quer que ele fique aqui. Pode parecer injusto, se o aluno pode pagar. Mas, se ele passou em segundo lugar aqui, ele tem condição de passar em outras universidades. Outras bolsas são a do Fies, que é o crédito educativo, em que o MEC paga à PUC e o aluno, depois de formado, devolve isso ao governo. Há as bolsas de acordo trabalhista, que dão gratuidade aos filhos de funcionários e professores com certa carga horária. E vão surgindo mais bolsas: a Bolsa Coral, para o aluno que sabe cantar e participa do coral da universidade; a Bolsa Docente Especial, para filhos de professores que não são do quadro permanente; a Bolsa Esporte, que é parcial para alunos esportistas com desempenho de competição. E dependentes de professores de outras instituições de ensino privado do Rio de Janeiro têm bolsa de 50%. Há ainda a Bolsa Estágio, que tem crescido muito, para alunos que trabalham na universidade. Por uma carga horária de 20 horas semanais, o aluno tem 60% de bolsa. A Bolsa Fraterna, que dá desconto de 20% para quem tem um irmão na universidade. A Bolsa Institucional, para situações especiais, como um aluno que, por erro do departamento, fica devendo alguns créditos e tem que voltar. A Bolsa Intercâmbio, que damos aos alunos que vêm de fora, e, por fim, as bolsas dos seminaristas e religiosos. Eu duvido que alguma instituição tenha um programa de bolsas com esse. Parece uma festa! Mas a PUC tem que ter esse vasto programa de bolsas, é a maneira que temos de segurar alguns alunos.  

Portal: Qual é o motivo desse grande número de bolsas? 

Augusto Sampaio:
A PUC é uma universidade filantrópica, de fins comunitários. Isso está definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação: uma universidade que tem ensino, pesquisa e extensão tem que ter alguma abertura para a comunidade. Ela não pode ter lucro. Qualquer resultado superavitário é obrigatoriamente aplicado na universidade. Nós também ganhamos com a filantropia. Não recolhemos Imposto de Renda e nem a parte patronal do empregado.
 
Portal: Entre essa bolsas que a PUC oferece, existe alguma cota que seja puramente racial?

Augusto Sampaio: Não. As bolsas de ação social, que, segundo o próprio ministro Fernando Haddad, serviram muito de inspiração para o Prouni, começaram depois do Pré-Vestibular para Negros e Carentes (PVNC). A PUC sempre teve programa de bolsas, mas não vinha tanta gente carente para cá. Talvez porque a PUC fosse vista com uma instituição de ensino somente de elite. Até que surgiu o convênio com o Pré-Vestibular Comunitário, que começou a trazer gente de mais longe para cá. Os primeiros eram para Serviço Social. E depois veio o Prouni, que eu acho um programa genial. Nós temos dois alunos aqui, muito bons, de Relações Internacionais, que moram em Vila de Cava e Japeri. O Prouni foi espetacular. Antigamente, as faculdades davam bolsas para o filho do diretor, para o sobrinho da namorada. No Prouni não, é por renda. Tem que mostrar a renda da família, como é na Bolsa PUC. 
 
Portal: Então, com tantas bolsas que já eram oferecidas, o Prouni não trouxe tanta novidade para a PUC.

Augusto Sampaio: Dizem que o Prouni foi inspirado na PUC. Eu estive com o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, quando ele era secretário executivo do MEC, e ele ficou impressionado. A PUC criou as bolsas de Ação Social 14 anos antes de o Prouni surgir. É a bolsa de estudos para aquele aluno de renda bem baixa, proveniente de pré-vestibulares comunitários. O Prouni substituiu essa bolsa, mas ela ainda existe. Chegamos a ter mil alunos com essa bolsa, hoje temos 112. O Prouni ainda não contempla algumas situações que deveria. Por exemplo, o Prouni diz que só pode ser contemplado o aluno que veio de escola pública ou bolsista de uma escola particular. Aquele jovem que estudou em uma escola particular, mas porque era filho da empregada doméstica e a patroa pagou, está fora. Outra situação muito comum no Rio de Janeiro, com esta questão do tráfico, é que muitos pais fazem um grande sacrifício para pagar 80, 100 reais e colocar o filho em uma escola particular precária, porque não quer deixar o filho em uma escola pública. Porque ele mora em um lugar que é dominado pelo Comando Vermelho e o Ciep fica em uma área do Terceiro Comando. Isso existe, e eu sou testemunha. 
 
Portal: Uma pesquisa da Andifes mostrou que programas como Prouni e cotas raciais aumentaram a presença de estudantes negros e pardos, mas não trouxeram mais alunos das Classes C, D e E para as universidades federais. O número de alunos dessas classes caiu de 44,3%, em 1996, para 43,7%, em 2010. O que acha da política de cotas raciais adotadas pelas instituições federais no vestibular?

Augusto Sampaio: As federais cometem algumas falhas que deveriam ser corrigidas. Por exemplo, conhecia uma garota que se formou em medicina. Estudante brilhante, e na sua formatura conheceu um fazendeiro rico, casou com ele e nunca exerceu a medicina. A menina rica tirou a vaga de um pobre, nós pagamos o ensino dela, pelo imposto. Eu acho que estudante de universidade pública tinha que dar algum tipo de retorno depois de formado. Sobre as cotas, eu entendo o problema. Mas não é via cotas que vamos resolver. Eu acho que a entrada deve ser por mérito. A cota pode se transformar em algo discriminatório. No dia em que o governo garantir o Ensino Médio de qualidade, acaba a necessidade de cota. Ela pode ser algo temporário, mas, como uma coisa definitiva, não tem sentido. O problema está no Ensino Médio, que é deficiente. O estado dá um diploma mentido para ele. Sobre os estudantes de classes mais baixas, talvez esses estudantes estejam indo para o ensino técnico. Às vezes, para o jovem muito pobre, o ensino técnico é mais vantajoso. é passar e se formar, que ele vai ter um emprego.

Portal: Então esses programas podem ser ineficazes se não houver políticas em níveis mais básicos, como no Ensino Médio?

Augusto Sampaio: A prioridade é o Ensino Médio e o ensino técnico. O grande projeto para o Brasil é a escola de tempo integral, do Anísio Teixeira. Aula, alimentação, lazer. Muitas crianças, quando não estão na escola, ficam na rua, e o ensino em muitas escolas é fraco.

Portal: O desempenho acadêmico dos bolsistas tem se mostrado muito diferente do dos demais alunos? 
 
Augusto Sampaio: O grupo de bolsistas é igual a todos os grupos. Acho até que o aluno bolsista tem uma garra maior, às vezes eu vejo isso. Mas grupo é igual, não tem melhor ou pior. Uma coisa que deveria ser feita é preparar mais o aluno no Ensino Médio. Ajudá-lo a escolher sua profissão. As pessoas são induzidas pelo mercado. Enquanto o foco da vida for o sucesso medido pelo "ter", teremos distorções. Vejo gente aqui que faz o curso sem ter nenhuma vocação. As pessoas têm que escolher carreiras por vocação mesmo. Muitas pessoas desistem da faculdade por causa disso, o que é até um ato de inteligência. 

Portal: Existem planos de ampliação ou de criação de novos programas?

Augusto Sampaio: Não pensamos nisso no momento. Pensamos em aperfeiçoar os programas que temos de manutenção de pessoas aqui, como o Fundo Emergencial de Solidariedade da PUC-Rio (Fesp), porque a gratuidade do ensino pode não garantir a continuidade do aluno aqui. São cerca de 900 alunos atendidos pelo Fesp, que ganham vale-transporte, alimentação, auxílio para fotocópias, e um grupo pequeno que ainda tem auxílio-moradia, cerca de 90 alunos. Certamente, muitas pessoas não ficariam na PUC sem o Fesp. Nosso pensamento é ampliar, principalmente para os alunos da bolsa de Ação Social e do Prouni. Esse dinheiro não é da PUC, é da Companhia de Jesus; são os Jesuítas que dão esse recurso (alunos, ex-alunos, professores e funcionários também podem contribuir, com o desconto de qualquer valor, no boleto da mensalidade). O que estou tentando fazer agora é juntar alguns empresários para assumirem isso. O empresariado brasileiro é muito atrasado nesse sentido. É uma coisa legal formar uma pessoa, ver o seu progresso. Outra coisa é que no Brasil não temos a tradição de ex-alunos doarem dinheiro para PUC, isso é uma pena. Existem ex-alunos da universidade, em todos os setores empresariais, em posição de destaque.