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Rio de Janeiro, 19 de abril de 2024


Cultura

A arte de representar a cruz

Thiago Castanho - Do Portal

27/03/2008

 Thiago Castanho

O Solar Grandjean de Montigny, no campus da PUC-Rio, abriga a exposição “A Cruz de cada Dia – A criatividade da Fé no Fazer da Cruz”.  Cerca de duzentas cruzes compõem exposição, que foi organizada pelo padre José Fernandes, ex-professor de Comunicação Social na universidade.O padre Fernandes juntou todo o material e teve que montar a exposição em apenas dois dias. Recolheu peças que datam desde o século IX até os dias atuais. Para o padre, a variedade vem da cabeça das pessoas. “Cada pessoa representa a cruz de uma maneira”, diz o padre.

 

A exposição abriga peças feitas em tamanhos e materiais diversos, vindas de vários países. O visitante pode deparar-se com um crucifixo todo feito de pregador de roupa e também com madeiras antiqüíssimas e metais. Cada uma delas possui uma história. Há uma cruz toda colorida de papel machê,  peça  feita por um deficiente mental e conta com um jacaré e um pássaro acompanhando a agonia de Jesus crucificado. Há uma representação de dois camponeses, um homem e uma mulher, crucificados. A singularidade destas peças é que a cruz da mulher são panelas e artigos de trabalho doméstico e a do homem são ferramentas de trabalho rural.

 

 Mesmo com a catequese e com a influência de uma sociedade sobre outra, as diferentes visões de mundo de cada povo aparecem em representações da cruz. Há uma peça feita apenas de sementes produzida por povos indígenas do pantanal e uma outra feita de palha é de índios colombianos. Os búzios, muito comuns na umbanda, são a matéria-prima de outra peça(foto). “Um pai-de-santo que doou”, explica o padre-organizador.

 

Padre Fernandes conta a história de uma cruz muito especial, que foi encontrada em Playa Negra. no Chile, próxima à casa de Pablo Neruda. O poeta costumava dizer que o mar o presenteava trazendo objetos e surpresas, todas as manhãs. Tempos depois da morte do escritor, o mesmo mar daquela praia foi responsável por trazer uma imagem metálica de um crucifixo. Oxidada pela água salgada, ela também pode ser vista na exposição.

 

A cruz está presente em muitos lares brasileiros e algumas são relíquias de família, tratadas com carinho e cuidado há gerações. Alguns visitantes se deram conta de que os crucifixos que possuem em casa são verdadeiras obras de arte. “Desde que a exposição começou já recebi cinco crucifixos”, conta o padre.  Segundo ele, algumas pessoas que visitaram a exposição já prometeram deixar peças com ele. A exposição permanece no espaço até o dia 30 de março, das 10h às 17h e a entrada é gratuita.