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Rio de Janeiro, 26 de abril de 2024


Mundo

Crise econômica revive o terror na Europa

Caroline Hülle, Gabriela Caesar e Jorge Neto - Do Portal

29/07/2011

 Arte: Eduardo de Holanda

Explosão de um carro bomba, extermínio em uma colônia de férias, 76 mortos na Noruega. O ataque terrorista do militante da extrema direita Anders Breivik, perpetrado na sexta-feira passada (22), gerou comoção e deu início a um novo ciclo de medo. O Portal conversou com os professores Ricardo Ismael, Márcio Scalércio e Maurício Parada, do Departamento de Sociologia e Política, do Instituto de Relações Internacionais e do Departamento de História da PUC-Rio, respectivamente, para analisarem os reflexos do ataque na Europa. Segundo os professores, a crise econômica revitaliza ideologias da extrema direita europeia, base do terrorismo nacionalista e dos movimentos xenofóbicos.

– É as Torres Gêmeas da Noruega – resumiu Ricardo Ismael, comparando o ataque ao atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.

Segundo o professor, a conjuntura econômica é propícia à expansão dos partidos de direita, cujas ideias, no entanto, podem ser manifestadas dentro de uma democracia, sem a perda de limites. Scalércio concorda e esclarece que a crise econômica se torna “terreno fértil” para o florescimento do radicalismo, pois modifica a vida e os costumes dos cidadãos.

De acordo com Ismael, o ataque de Breivik pode despertar simpatizantes, ou mesmos seguidores, que procurem imitar o “gesto irresponsável”. Enquanto o especialista se pergunta se o ataque fortalecerá ou enfraquecerá os partidos de direita na Europa, Maurício Parada aposta na perda de espaço dos grupos de esquerda.

– Legendas que defendem políticas multiculturais devem seguir uma tendência de centro-direita, como uma das consequências da crise econômica que atinge a Europa – disse o professor.

Márcio Scalércio lembrou ainda que, apesar da existência de grupos radicais organizados, é preciso cuidado ao se relacionar o atentado aos partidos da direita europeia.

– Parte da população europeia concorda com a pauta da extrema direita. Isso não significa que eles são necessariamente pessoas da direita e nem que concordam com todos os seus ideais.

 Jorge Neto Para Ismael (foto), tanto há a possibilidade do ataque ser associado à bandeira dos partidos de direita, o que os enfraqueceria politicamente, como pode surgir um sentimento contrário ao multiculturalismo, um contexto mais restritivo aos imigrantes na União Europeia. Maurício Parada, no entanto, acredita que as portas da Europa se fecharão para os estrangeiros, apesar de a posição da Noruega ser a favor da abertura.

– Os partidos de direita estão em crescimento. Ganharam espaço em frente a uma crise geral, tanto da economia quanto do multiculturalismo – disse o professor.

Assim como Ismael, Parada diz que houve falha nos órgãos noruegueses de segurança. Para ambos, o ataque terá consequências, como um monitoramente maior dos grupos de direita.

Apesar de a tragédia ter ocorrido numa época de dificuldade financeira, Ismael não compara o fato com a ascensão de Adolf Hitler, em 1933, que também se aproveitou da situação econômica alemã. Já Márcio Scalércio faz um paralelo do xenofobismo da Europa com o preconceito contra nordestinos neste país, um sentimento comum aos conservadores em geral. Ressalva, entretanto, que isso não implica em atitudes extremas, como a ocorrida na Noruega.