Luiza Canetti Grinstein - Da sala de aula
26/07/2011“Depois da briga e da separação... Luana não tem mais Dado em casa”. Essa foi a manchete de capa do jornal Meia Hora no dia 29 de outubro de 2008. Além dela, a recente “Tsunami de cocô deixa oito feridos” e as clássicas “Virou purpurina”, sobre a morte do Clodovil, e “Nasceu negro, ficou branco e vai virar cinza”, sobre a morte de Michael Jackson, já renderam centenas de comentários nas redes sociais com a pergunta “quem será que teve essa ideia?”. O nome dele é Humberto Tziolas Jansen Machado, de 37 anos.
Muitos tentam adivinhar como seria esse personagem misterioso. Alguns acham que seria um jovem expansivo e tipicamente carioca, que fala muitas gírias e trabalha de bermuda e havaianas, e que era o famoso “vagabundo da faculdade”. Outros têm uma visão oposta, de que ele seria um intelectual sério e quieto, um tímido nerd com um vasto vocabulário. “Queria muito ver pelo menos uma foto desse cara que tem essas sacadas fantásticas”, diz o aluno de jornalismo da PUC-Rio Diogo Ramalho.
A curiosidade é unânime entre os estudantes do curso. Humberto seria um meio termo. Numa terça-feira comum de trabalho, depois da reunião de pauta, ele se diverte em frente ao computador com uma imagem de um pingüim que teria se apaixonado por um tênis, só porque ele era preto e branco. Vestindo uma camisa social, calça jeans e calçando sapatos pretos, ele esboça poucos gestos, seus movimentos são muito contidos, mas o sorriso meio torto e a risada são frequentes. Ele não se encaixa em nenhum dos estereótipos, não tem rótulos, se define como um homem eclético.
Márcia Brasil, jornalista da TV Globo, trabalhou com Humberto no jornal O Dia e o descreve em poucas palavras. “Inteligente acima da média, muito culto mas também adora coisas bregas”, resumindo os atributos essenciais para conseguir fazer um jornal desafiador como o Meia Hora. Marcelle Justo, também da TV Globo, trabalhou com ele quando os dois iniciavam suas carreiras no jornal O Dia, depois na Globo.com. Ela fez parte da equipe do Meia Hora por um ano. O flamenguista roxo e torcedor do Império Serrano é, segundo ela, “o chefe que todo mundo quer, uma pessoa do bem, incapaz de fazer inimigos”.
Seu senso de humor é sua marca registrada. Um humor ácido e uma inteligência aguçada, como descreve a irmã mais velha Roberta Jansen, jornalista de O Globo. Certa vez, uma universitária perguntou a Humberto se ele fazia jornal para bandido. Sua resposta foi: “Eu não, mas se ele quiser comprar...”. As críticas ferrenhas vêm dos estudantes, que acusam o jornal de ser sensacionalista e só ter “mulher e cadáver”. Para eles, Humberto lança o desafio: “Me mostrem, em seis anos, dez fotos de cadáveres”. Ele atribui essa visão equivocada a um desconhecimento do trabalho.
Falando sobre a nova redação, que tem menos de um mês, desde que saiu do prédio na Rua do Riachuelo e se mudou para a Cidade Nova, Humberto brinca que para usar os elevadores é preciso fazer um mestrado de tão tecnológicos que são. Sua mesa fica no lugar a que ele se refere como o recuo da bateria, uma referência carnavalesca e tipicamente carioca e popular, como o jornal. Ele foi convidado para ser o editor quando o Meia Hora foi criado, em 2005, justamente por esse seu perfil conciliador entre o culto e o popular, com o objetivo de informar com bom humor.
O orgulho de fazer parte da história desse jornal é incontrolável. O Rio, antes do Meia Hora, era terceiro lugar no ranking de capitais com números de leitores. Seis meses depois do lançamento do jornal, o Rio foi para o primeiro lugar”, diz Humberto com um sorriso que quase não cabe no rosto. “Outra pesquisa mostrou que 60% dos leitores do Meia Hora são pessoas que não liam absolutamente nada antes de ter o jornal. Isso não tem preço”.
A satisfação continua quando ele fala da matéria que a revista Piauí, a revista mais cabeça do país”, de acordo com o próprio, fez sobre o jornal. Não só de piadas vive o Meia Hora, é preciso saber dosar e ter bom senso. No caso do massacre em Realengo, o companheiro de trabalho de Humberto, Henrique Freitas, também responsável pelas capas, optou por um fundo preto, com duas asas e apenas os nomes das crianças mortas, sem uma manchete, surpreendendo muitos. “Todo mundo botou cadáver e sangue e o Meia Hora, poético”, resume Humberto.
De acordo com Henrique, a parceria funciona tão bem porque os dois pensam de forma parecida, compartilham do mesmo tipo de humor e, principalmente, se respeitam muito. O jornalista formado pela UFF, que não passou de primeira no vestibular, é hoje um profissional respeitado e bem-sucedido no meio. É também admirado por legiões de fãs que criaram até um fã-clube para o jornal e muitas outras pessoas que reconhecem o trabalho inovador que é feito. “Agora toda vez que acontece alguma coisa, todo mundo já fala ‘Como será que o Meia Hora vai dar isso amanhã?’”, diz Humberto com um sentimento de missão cumprida.