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Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 2024


Mundo

Pesquisadores rejeitam discriminação racial

Felipe Machado - Do Portal

22/10/2007

Os pesquisadores Noel Santos Carvalho (USP) e Pedro Lapera (UFF) estiveram na PUC-Rio para debater Cinema e Raça durante o XI Encontro Internacional da Socine (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual). Mas foi fora da mesa de discussão sobre cinema que eles mais concordaram. Ambos consideraram que as declarações do biólogo James Watson refletem teorias racistas do século XIX. Na última terça-feira, Watson, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 1962, disse sentir-se pessimista em relação ao futuro da África por acreditar que os negros são menos inteligentes que os brancos, o que seria comprovado por testes. A idéia já havia exposto em seu último livro “Avoid Boring People” (Evite Pessoas Chatas). “Não há razão firme para crer que as capacidades intelectuais de pessoas geograficamente separadas evoluam de maneira idêntica”, escreveu.

Para Noel, cientificamente a declaração de Watson não tem a menor importância, por se tratar de uma opinião racista pessoal, e que a prova disso é o repúdio por parte da comunidade científica. “O que fica é como, de fato, o Prêmio Nobel pode ser um fiasco. Pode-se dar o prêmio a um sujeito que é, na área dele, uma unanimidade, no entanto, absolutamente estúpido”, afirma.

Já  Lapera considerou que a opinião do cientista só reforça os estereótipos em relação às etnias. Hoje, o esforço está em perceber que raça não é um aspecto biológico. “Raça é uma prática discursiva, é algo socialmente produzido, o que não quer dizer que não haja racismo. Não é à toa que existe uma legislação anti-racismo que infelizmente não é tão ativa”, diz. Noel acrescenta que o racismo no Brasil, assim como o termo raça, quer ser esquecido por todos os atores sociais, sejam negros, brancos, mestiços. Ele acredita que a questão racial no país é ambígua, pois não é explícita como foi nos EUA e na África do Sul, mas existe, e de maneiras diferentes de acordo com a região e o estado.

O pesquisador  fala a partir da própria experiência, pois diz que seus amigos no Rio de Janeiro não o consideram negro, muito menos em Salvador, mas em São Paulo diz já ter sido parado pela polícia várias vezes por causa de sua cor. Ao fazer um paralelo com a representação do negro no cinema brasileiro, Noel diz que, na chanchada, quando se fazia piada com a situação do negro, era algo positivo. Rir de si, segundo ele, é uma característica do povo brasileiro. “Não conseguir rir de si, isso é negativo. Esse cientista não consegue rir de si, por isso que fala esse tipo de asneira. Nós não caímos nessa. O movimento negro é civilizatório, nesse sentido, como um movimento social”, completa.