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Rio de Janeiro, 17 de maio de 2024


Economia

"Fotógrafo hoje tem que fazer também vídeo"

Lucas Augusto e Thayana Pelluso - Do Portal

19/06/2015

 Thayana Pelluso

Num mundo dominado por imagens, em que cerca de 3,5 bilhões de fotos são tiradas diariamente só por smartphones, os profissionais da área buscam novos caminhos e qualificações. "Hoje jornais como o NY Times contratam fotógrafos só para fazer vídeos", observa o jornalista Mauro Pimentel, ex-fotógrafo de veículos como Folha de S.Paulo e UOL. Ele trabalha hoje como colaborador para jornais, revistas, agências e dedica-se a projetos documentais. "Depois de experimentar vários tipos de trabalho, agora atuo como freelancer e dou prioridade a pautas que têm mais o meu perfil", orgulha-se. A exemplo de Mauro, a também jornalista e fotógrafa Paula Giolito passou por algumas redações, inclusive a do Portal PUC-Rio Digital, antes de empreender. "N'O Globo, desenvolvi minha técnica de retratos e de lidar com o retratado. Muitas vezes, o sucesso do retrato vem justamente da capacidade de conquistar o retratado, vender a ideia da foto. Foi assim em duas fotos muito comentadas, do Frejat e da Fernanda Montenegro", destaca Paula, ao dividir com alunos de Comunicação um pouco da experiência profissional, em palestra organizada pelo professor de Fotojornalismo Weiler Finamore, quarta-feira passada.

Depois de quase dois anos no jornal O Globo, onde aprendeu que às vezes é preciso "colocar o pé na porta" para produzir "a melhor foto", Paula canalizou a paixão por retratos para um voo solo. Abriu, no ano passado, o projeto Raízes, especializada em imagens de família. "Com as redações mais enxutas, vi que era a hora de trocar a carteira assinada pela oportunidade de empreender e fazer um trabalho autônomo, que tem mais a ver comigo, sem perda de remuneração", justifica a fotógrafa, animada ao prodizuir "fotos de revista" para casais, crianças, gerações familiares. "Parecem mesmo que as imagens estão numa revista", reconhece Weiler. 

Embora o empreendedorismo seja uma opção aos futuros fotojornalistas, Paula e Mauro alertam: quem segue esse caminho deve desenvolver um olhar atento a histórias originais. “É importante perceber que o conteúdo produzido por conta própria pelo fotógrafo pode ser vendável”, acrescenta Mauro. “Se por um lado as redações estão mais enxutas, outras áreas se revelam emergentes, como as revistas customizadas”, indica Paula. Nesse cenário em que as redações enxugam custos, vagas, e contratam mais colaboradores, Mauro reitera a importância da qualificação multimídia:

– Jornais, revistas, portais valorizam cada vez mais o fotógrafo que produz também vídeos. É algo que não tem volta – observa. – E o profissional não pode entregar o vídeo bruto. Deve pensar a narrativa. É como um minidocumentário – explica.

A coragem de “colocar o pé na porta” rendeu oportunidades cedo para ambos, que começaram a trabalhar como freelancers antes mesmo de concluírem o curso de Comunicação Social na PUC-Rio. Paula Giolito, que ingressara na universidade já com foco em fotografia, imaginava escrever e fotografar ao mesmo tempo. Percebeu que "a rotina acelerada da redação" dificultava a tarefa. Depois de estagiar no Portal, Paula iniciou a carreira na Folha de S.Paulo, produzindo retratos (fotos de personalidades). A trajetória por redações como a do O Globo, conta a fotógrafa, amadureceu "a agilidade e a relação com as pessoas". Com o tempo, Paula passou a cobrir o jornalismo diário, mas não se adaptou "à correria":

– A experiência da redação me ensinou a ser mais ágil e a lidar melhor com as pessoas. Mas eu decidi fugir do tumulto – conta.

Por outro lado, ela reconhece que a maratona do jornalismo diário contribuiu para a produção de retratos:

– No fotojornalismo não há tempo para pensar a foto com calma. Seja na rua ou na produção de um retrato. Às vezes, é preciso dialogar e covencer as pessoas da ideia do fotógrafo.

O encolhimento do mercado, somado à vontade de empreender, a levou para a abertura da agência Raízes, especializada em fotos de famílias. "Esse é um mercado crescente", observa.

Já Mauro logo ingressou no vaivém do jornalismo diário. No quarto período de Comunicação, foi trabalhar no portal de notícias Terra, onde ficou por três anos. Foi escalado, por exemplo, para as cobertura do funeral do líder sul-africano Nelson Mandela, na África do Sul, e das Jornadas de Junho, em 2013, que lhe rendeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, com foto alusiva aos protestos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). "O Maurinho é pau para toda obra", brinca Paula, referindo-se ao perfil versátil do colega.

Mauro lembra que, especialmente em coberturas como as de manifestações populares, é fundamentar distinguir ousadia de imprudência. "O profissional não pode deixar de cuidar da própria segurança", reforça.

De olho nos novos rumos do mercado, no qual as produções audiovisuais se proliferam, principalmente pelas plataformas digitais, Mauro investe em trabalhos próprios, de viés documental. As redações, frisa ele, passam a valorizar mais esse tipo de imagem, sobretudo no formato de vídeos para a web:

– Jornais como o New York Times e o Washington Post contratam fotógrafos que só fazem vídeo. São minidocumentários,  de um a dois minutos,  para internet. Seguem não o modelo de televisão, e sim uma pegada da fotografia – esclarece.

Depois da palestra, o Portal conversou com os fotógrafos para traçar um panorama das respectivas referências, das experiências marcantes, e extrair recomendações aos futuros profissionais da área. Abaixo, um resumo do que eles ressaltaram:

 

Fotos inspiradoras e fotógrafos de referência

 

Mauro Pimentel:

- O desembarque das tropas aliadas na Normandia, no Dia D da Segunda Guerra Mundial, de 1944, por Robert Capa: “A sequência que sobrou do rolo de filme que queimou é incrível. As fotos que existem daquele momento histórico são dele”.

- Fotos de Maurício Lima: “É um fotógrafo atual, do New York Times. Ele fez a cobertura do conflito na Ucrânia ano passado. Ele tem fotos incríveis”.

- Fotos do francês Henri Cartier-Bresson: “Tenho visto muita coisa sobre ele ultimamente porque ele era muito instintivo e usava câmeras menores para isso. Até comprei uma também. Ao mesmo tempo, ele tinha um rigor técnico absurdo”.

Paula Giolito:

- Picasso e Croissants por Robert Doisneau: “Gosto porque é um retrato inusitado do Picasso. Tenho até um na cozinha”.

- Fotos de Ruan Esteves: “Um retratista brasileiro que é uma referência para mim”.

- Daryan Dornelles: “Outro ótimo retratista brasileiro que é referência. Vale muito a pena pesquisar seu trabalho”.

Reportagens marcantes

Mauro Pimentel:

- Cobertura da morte de Nelson Mandela, na África do Sul.

- Cobertura das manifestações de 2013 no Rio de Janeiro.

- Reportagem sobre Andrea: “Há cinco anos ela lutava para ter atendimento no SUS e duas semanas após uma matéria que eu fiz, o secretário de saúde se mobilizou para ajudá-la. Não caímos no sensacionalismo e conseguimos ajudar a Ângela”.

Paula Giolito:

- Retrato do Frejat: “Foi muito marcante porque eu estava começando no O Globo. E consegui convencer ele de deitar na escada”.

- Retrato de Fernanda Montenegro: “Por ser quem ela é, por ter que fazer a foto correndo e pelo lindo resultado que tive”.

- Retrato do arquiteto colombiano José Leopoldo “Pepe” Cerón: “A foto de que mais gosto na minha vida. Não é de jornal e tirei durante minhas férias, numa cafeteria na Colômbia. Nem mesmo o conhecia. Mas adorei tirar uma foto dele”.

Conselhos e dicas para os futuros profissionais

- "Trabalhar muito".

- "Não ter vergonha de pedir oportunidades".

- "Convencer as pessoas certas sobre o potencial do trabalho".

- "Buscar referências não só na fotografia, e ler muito".

 

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