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Rio de Janeiro, 14 de junho de 2024


País

Independência chegou bem depois do Grito do Ipiranga

Caio Cidrini - Do Portal

06/09/2012

A independência brasileira comemora 190 anos nesta sexta-feira. Mas, na avaliação de alguns historiadores, só foi consumada décadas depois, quando a genética de nação superou conflitos ideológicos, políticos e econômicos. Assim avalia Marco Antônio Pamplona, diretor do Departamento de História da PUC-Rio. Ele lembrou, na palestra de abertura da Semana de História, terça-feira passada, a batalha de interesses das primeiras décadas “pós-Grito do Ipiranga”:

— A independência se caracterizou pelos conflitos, especialmente entre a manutenção da monarquia, desejada pela província do Rio de Janeiro, e a continuação da escravidão, que já era razão de luta em diversas províncias brasileiras. O poder foi centralizado no Rio com uma política de recolonização.

De acordo com o professor, o país se viu independente e autônomo politicamente, mas não mudou constitucionalmente antes da Proclamação da República. Especialista em História das Américas, Pamplona diz que, para entender aquele contexto, “é preciso olhar para a o continente americano primeiro”. O conflito escravidão-independência, observa ele, não foi exclusivo do Brasil: as colônias hispano-americanas sofreram com “fantasma do Haiti"  — primeiro país latino-americano independente, a partir da revolução deflagrada por escravos.

O também professor da PUC-Rio Ilmar de Mattos, especialista em História do Brasil, acrescenta que o conflito entre independência e abolição não foi o único conflito signficativo do Brasil pós-colonial. Para o historiador, o debate maior remete à diferença entre emancipação e independência:

— Com os dicionários da época, é possível observar: independente é o sujeito de si próprio, sem sentido político. Emancipado é o filho que sai da tutela dos responsáveis. Pode-se fazer referência a um corpo político. A monarquia brasileira renegou a portuguesa.

O especialista distingue, portanto, a independência, cuja referência oficial é o 7 de setembro de 1822 datada, do marco que considera a emancipação brasileira: a adbicação de D. Pedro ao trono, em 7 de abril de 1831. Ainda de acordo com Mattos, os conflitos e ambiguidades seguintes ao Grito do Ipiranga  dificultam a caracterização de uma singularidade naquele momento histórico brasileiro e “influenciam as tendências que distinguem a historiografia sobre a Independência”.

Tais tendências convergem para duas correntes ideológicas: a que aceita a transmigração  — o Brasil independente deu continuidade ao processo político e ideológico estabelecido por Portugal — e a que nega a transmigração. Esta entende a independência brasileira como ruptura com a metrópole: “a nação não deve nada aos portugueses”, sintetiza.

— Não é da colônia que sai a nação, mas da nação que sai a colônia — afirma o professor. Na avaliação dele, o último desafio para caracterizar a independência brasileira volta-se aos conceitos de nação e colônia e à construção de “um singular coletivo”:

— A nação para existir teve que inventar a colônia. Aquilo que era fragmentado em diversas províncias brasileiras foi unificado. Só com este processo é possível começar a se pensar uma nação.