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Rio de Janeiro, 15 de junho de 2024


Mundo

Jornalismo investigativo 40 anos depois de Watergate

Jorge Neto - Do Portal

15/06/2012

 Jefferson Barcellos

Há 40 anos, em 18 de junho de 1972, o jornal The Washington Post noticiava a invasão à sede do Comitê Nacional Democrata dos Estados Unidos. A notícia marcou o início da cobertura jornalística que culminaria, dois anos depois, na renúncia do presidente americano Richard Nixon, em 1974, no mais emblemático caso de jornalismo investigativo, o Watergate.

Quatro décadas depois, a saga dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein – que chegou às telas do cinema como Todos os homens do presidente (foto), em 1976, com Robert Redford e Dustin Hoffman nos papéis principais – continua a inspirar estudantes e jornalistas de todo o mundo.

Professor, pesquisador de jornalismo e coordenador de Graduação do Curso de Comunicação Social da PUC-Rio, Leonel Aguiar acredita que Watergate permanece no imaginário ainda hoje pelo mérito de lembrar aos cidadãos e às forças no poder uma das principais funções do jornalismo:

– É um caso exemplar, no sentido de recuperar a função social do jornalismo de vigilância da sociedade em relação aos poderes constituídos. É o grande momento em que o jornalismo conseguiu jogar luz sobre uma série de questões nebulosas nessas relações de poderes que se passavam, levando à queda de um presidente dos Estados Unidos. O jornalismo é um dos pilares de defesa da sociedade.

Para o jornalista Chico Otávio, repórter especial do jornal O Globo e professor de Redação em Jornalismo Impresso da PUC-Rio, as novas gerações têm o trabalho de Woodward e Berstein como uma herança: Divulgação

– Watergate deixou duas marcas fundamentais para o jornalismo: o exemplo de esforço jornalístico, em que os repórteres checaram e rechecaram os dados da lista do comitê de reeleição do presidente, procurando entre mais de 100 nomes alguém que pudesse dar informações sobre a contabilidade do comitê; e o modo de se relacionar com a fonte, mostrando como trabalhar bem e extrair o máximo de uma fonte em off com o Garganta Profunda (o então diretor do FBI Mark Felt). Nada do que ele disse foi usado diretamente nas matérias.

Na era dos dossiês, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o jornalista Marcelo Moreira, destaca a importância de se diferenciar o jornalismo investigativo do mero oportunismo político.

 Divulgação – Hoje o que acontece muito no meio político é a prática dos dossiês: alguém prepara uma série de documentos contra um inimigo político e entrega na mão do jornalista, que publica se houver interesse público. Não há o trabalho de investigar – comenta.

Mas, na era digital, o jornalismo não é mais como era antigamente. Para Moreira, o ritmo cada vez mais frenético das redações, que concorrem minuto a minuto pela velocidade da notícia, é um entrave ao exercício do jornalismo investigativo, que exige tempo:

– As ferramentas disponíveis hoje abriram muito o leque para que o jornalista obtenha informação. Mas as redações aceleraram os seus processos. Reportagens de fôlego, mais prolongadas, são cada vez mais raras. Por isso, acredito que seria improvável um caso como este voltar a acontecer – diagnostica Moreira.

Aguiar também se mostra divido quanto aos benefícios dessas mídias:

– Por um lado, a internet possibilita novas técnicas, como a reportagem assistida por computador (RAC). Por outro, cria uma falta de precisão na apuração das informações, o grande problema do jornalismo instantâneo. O jornalista deixa de ser jornalista para se tornar um “instantaneísta”.

Responsável por matérias de grande repercussão como a máfia do INSS e o caso Riocentro, Chico Otavio acredita que a tecnologia pode ser grande aliada do trabalho de apuração nas redações.

– As novas mídias facilitam essa investigação. Por causa da série de postagens do ex-governador Anthony Garotinho em seu blog, comecei a apurar o suposto envolvimento do governador do Rio, Sérgio Cabral, com um empreiteiro que está na berlinda no escândalo Cachoeira. É um político pautando redações por meio da mídia eletrônica – exemplificou Chico, referindo-se à construtora Delta, que concentrava o maior número de contratos do PAC em todo o país e hoje, alvo da CPI e declarada inidônea pela Controladoria Geral da União (CGU), está impedida de executar obras públicas.

O presidente da Abraji lamenta ver atualmente pouco do verdadeiro jornalismo investigativo: Mauro Pimentel

– São poucas aquelas matérias em que o repórter busca a fonte primária de informação, produz a conclusão com base nas informações que ele próprio apurou. Este é o que eu considero o jornalismo investigativo legítimo. São poucas as redações que dão esse tempo, e os repórteres que têm essa paciência.

“Mídia não serve só para ganhar dinheiro”, lembrou Carl Bernstein em 2010, em palestra no Rio, em homenagem ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Relembre a entrevista que ele concedeu ao Portal PUC-Rio Digital após o seminário.

Veja também o material especial do Washington Post sobre os 40 anos de Watergate.