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Rio de Janeiro, 17 de maio de 2024


Variedades

Projeto social tem o amor como palavra de ordem

Mariana Alvim - Do Portal

04/04/2012

 Mariana Alvim

Uma pesquisa em sites de busca com as palavras “projeto social” costuma indicar como resultado complementos como “para idosos”, “esportivo” ou “educativo”. Mas o que acontece quando uma destas iniciativas tem como mote o amor? Fundador do Instituto Amai-Vos, o economista Tony Piccolo, formado pela PUC-Rio, conta que a reação normal é de estranhamento. "Meu projeto é utopia pura”, diz Piccolo, cujo trabalho é elogiado pelo escritor Frei Betto e pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, parceiros da instituição.

Criado em 1999, o Instituto Amai-Vos tem como slogan a frase “Inteligência e tecnologia a serviço do amor”. O principal meio de atuação do projeto é a internet. No site, estão presentes as três principais áreas de atuação do projeto: o de jornalismo, com colunas e notícias; o de cultura e religião, com textos sobre diversas crenças; e o de serviços, cujas principais ferramentas são as orientações espirituais e sociais on-line. A página tem uma média de 4 mil usuários diários, e já teve picos de 80 mil. Na Semana Santa, por exemplo, o interesse aumenta.

Entre os 60 parceiros do projeto, cerca de dez fornecem conteúdo ao site do Amai-Vos. Este material, somado a uma produção própria, forma a parte jornalística do site. Além das reportagens, o site conta com colunas de colaboradores como o arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta, o teólogo Leonardo Boff e o tararã Sheikh Osman. Uma das colunistas, a teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio Maria Clara Bingemer, também é diretora de conteúdo. O seu envolvimento com o projeto vem de uma forte crença nele, como ela conta:

– Acho um projeto fantástico, no qual acredito muito. Creio como uma questão de fé mesmo. É um projeto original, não conheço nada parecido em todas as iniciativas de mídia nascidas a partir da fé e da religião – conta a teóloga, envolvida com o Amai-Vos há 12 anos.

Educado em escolas religiosas, como o São Bento, o economista é católico praticante, frequentando missas regularmente. Assim, as primeiras instituições com que se articulou para construir o Amai-Vos foram católicas. Mas o diálogo com outras religiões, do islamismo ao presbiterianismo, foi um dos meios de "praticar o amor", explica Piccolo. Por isso, o site conta com parceiros de diversas crenças. E mesmo os que não têm religião ganham espaço, como conta Daniel Sottomaior, fundador e presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos:

– O projeto tem enorme mérito, ainda mais porque pioneiro, de fazer encarar e divulgar os ateus e o ateísmo em condições de igualdade com posições religiosas – conta o engenheiro, que presta o serviço de orientação cultural e religiosa on-line no site.

 Reprodução do site A orientação on-line possibilita aos internautas se aconselharem com líderes religiosos, ou obterem auxílio de médicos, advogados e professores. No site, é possível também fazer doações, que sustentam o projeto. Parte dessa verba é repassada a outros projetos, como a Ação Social Padre Anchieta (Aspa).

Antes de reunir nomes importantes, o projeto surgiu com motivações pessoais de Piccolo. Rapidamente bem-sucedido na profissão, o economista se sentia insatisfeito com sua vida. A oportunidade de mudar seu destino chegou com um infortúnio: ele teve uma lesão na coluna e poderia ficar paralítico. Piccolo pensou no que poderia fazer deitado e encontrou a internet como solução. Sua insatisfação com a desigualdade social no Brasil foi o estímulo para criar o projeto.

A meta do projeto é se tornar referência nacional na mobilização cultural e social até 2015. Mas até lá, Piccolo e sua equipe – oito pessoas diretamente, e 80 indiretamente – terão que continuar se esforçando:

– Se não fosse meu lado economista, o projeto não tinha durado tantos anos. Tiramos leite de pedra. Manter esse projeto não é uma equação simples. Lido com valores, que devem se sustentar financeiramente. Como se financia o amor? As pessoas me olham como se eu fosse louco.

Para o economista, o envolvimento de ONGs em escândalos de corrupção, como no caso que levou à demissão do ministro do Trabalho Carlos Lupi, cria uma imagem negativa de ONGs que, como a Amai-vos, lutam para existir:

– Essas “ONGs” que estão aparecendo na mídia junto aos escândalos de corrupção na verdade não são nem nunca foram organizações não-governamentais. São meios criados e ou aproveitados por partidos e políticos corruptos  brasileiros para lavagem de dinheiro. Pela dimensão dos valores envolvidos e do roubo que elas viabilizam, aparecem mais na mídia do que as outras 99% das ONGs constituídas, que na maioria são sérias, éticas e passam por muitas dificuldades financeiras para se viabilizar.